segunda-feira, 20 de agosto de 2007

De Bragança a Almeida (24/06/2007)


Com o cansaço acumulado eu e o meu primo Paulo, vindos do Encontro Ibérico CBF no Lago de Sanabria, Zamora (Espanha), decidimos pernoitar em Bragança ( Hotel Ibis ( 35€) que dispõe de parque subterrâneo +3€) , enquanto o resto do grupo seguiu pelo IP4 em direcção a Lamego. Após o banho, passeio pelas ruas de bragantinas, jantar em resturante da cidade e visita aos bares. A deita, como calcularão, foi tardia. Nem por isso dormimos grande coisa ( o sistema nervoso detecta um local estranho e antes da habituação não se consegue dormir adequadamente ).Na manhã seguinte, antes das 8.00H deixámos o hotel e após pequeno almoço num café na zona central da cidade,rumámos para uma visita à zona histórica ( CASTELO E ZONA CIRCUNDANTE ). O Castelo, encantado na sua beleza e história, tem lendas de amores e de princesas prisioneiras. Tem histórias de guerras e a histórias dos séculos que se inicia no neolítico ! Brigância, o castro que lhe deu origem foi construído em local de boa defesa.Ainda não tinham tocado as nove badaladas, já as motas se encontravam frente à fortaleza de antanho. Esperámos. Os primeiros a chegar foram precisamente os funcionários. Entrámos para a visita, em cujo interior se vê um belíssimo museu militar, que deve ser ponto obrigatório de visita para qualquer turista que rume por estejas paragens. No nível do r/c há uma exposição de peças de artilharia da II Guerra Mundial e na Torre de Menagem, com vários pisos, existe uma exposição de armas ligeiras ( desde espadas, sabres, pistolas, revolveres, metralhadoras, carabinas etc.), de instrumentos do neolítico até à AK-47 (Kalachnikov) , munições, uniformes, quadros, etc. Absolutamente imperdível e tudo muito belo ( em boa hora resolvemos ficar ).
Eram para aí umas 11.00H quando partimos então rumo a Miranda do Douro, com passagem por Vimioso. Até lá foi de admirar a imensa e imponente paisagem do Nordeste Transmontano, de terras férteis e cerejeiras.Miranda do Douro fica na margem direita do rio Douro. (Beni-mos a ber... aspramos por bós an Miranda del Douro! ) Por aqui se fala o famoso dialecto mirandês.Estacionámos as motas numa sombra, ao lado do Castelo. Depois, começamos o nosso passeio, sob um sol tórrido e próximo da hora do almoço com a barriga a dar horas. Da antiga fortificação, que cercava o núcleo antigo da cidade, pouco mais resta para ver que as suas ruínas. Do castelo, porém, desfruta-se duma excelente vista sobre o Douro. Seguidamente, percorremos o centro histórico, com a sua calçada em pedra. Aí regalámos as vistas com um interessante conjunto arquitectónico do século XV, formado por casas de granito lavrado com relevos florais. Mas o ex libris da cidade é, naturalmente, a antiga Sé. A atribuição do título de cidade a Miranda remonta a 1545, no reinado de D. João III, altura em que se tornou também sede episcopal. Por trás da igreja, vimos as ruínas do Paço Episcopal.Havia missa na antiga Sé e, por isso, não entrámos, para apreciar o famoso retábulo da capela-mor com esculturas em madeira e o órgão, bem como o curioso Menino Jesus da Cartolinha, peça única da iconografia cristã. O Museu da Terra de Miranda, instalado num edifício do século XVII, que oferece um olhar sobre a etnografia mirandesa e sobre a casa tradicional, o artesanato e o vestuário, também ficou de fora. Almoçámos num restaurante na zona histórica que, infelizmente, foi a pior escolha possível e não se recomenda ( há muito por escolher mas depois é que se pervebe a comida está congelada e reaquecem )Após o mau repasto, seguimos a nossa longa rota, atravessando o país do nordeste até Almeida, passando por Mogadouro, Freixo-de-Espada- à -Cinta, Barca D’Alva, Figueira do Castelo Rodrigo e Almeida, tudo numa virada e numa só tarde. O ponto digno de toda esta rota e que deve ser enaltecido é sem dúvida, a paisagem esplêndida propiciada por toda a zona do PARQUE NATURAL DO DOURO INTERNACIONAL, sendo as estradas de asfalto de bom piso, com imensas curvas tão agradáveis de fazer … ( Nota informativa: o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) foi criado através do Decreto Regulamentar 8/98 de 11 de Maio com o objectivo de conservar o património natural promovendo ao mesmo tempo a melhoria da qualidade de vida das populações locais em harmonia com a conservação da natureza.O PNDI, ocupa uma área de 85 150 há e abrange o troço fronteiriço do Rio Douro (numa extensão de cerca de 1222 Km), incluindo o seu vale e superfícies planálticas confinantes, e prolonga-se para sul através do vale do Rio Águeda. Está localizado nas regiões de Trás-os-Montes e Alto-Douro e da Beira Alta, abrangendo os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, e Figueira de Castelo Rodrigo no distrito da Guarda. )Sendo tarde quando chegámos a Figueira do Castelo Rodrigo, fizemos apenas uma breve paragem no centro, passámos por algumas ruas e abastecemos as motas para ainda chegar de dia a Almeida. A surpresa é que a estrada tem um traçado recto a condizer !Em Almeida entrámos na fortaleza ( parte histórica ). Na primeira paragem, acusávamos um cansaço enorme e, foi então que o meu primo se deitou em cima duma pedra, para logo adormecer. Agora já nem estranhou a cama !!! Sobreviveu, mas ainda estávamos a cerca de 200 Kms de casa e o objectivo era apanhar a A25 que não passa muito longe.Bom lá acabámos por visitar a Fortaleza, o Picadeiro Real e passeámos a pé pelas ruas. Tudo tradicional, histórico e bem conservado. Havia uma feira do bacalhau e aproveitámos para reconfortar o estômago, antes de nos fazermos á estrada.O vento apertava e resfriava o fim do dia, tivemos que vestir o equipamento de inverno, que felizmente também tínhamos levado para Sanabria.Bom já a anoitecer, fizemos então a viagem relâmpago agora pela A25 ( antigo IP5) até Viseu e, daqui, até Coimbra, pelo IP3.Correu tudo bem, muito cansaço à mistura é certo, mas mereceu a pena. Foi um passeio moto turístico grandioso ( ***** estrelas ), conseguimos num só dia percorrer metade do país por uma zona interior/fronteiriça muito bela e digna de ser vista.Altamente recomendado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

De S. Jacinto (Aveiro) a Esmoriz (12-08-2007)


1.É necessário saber que além de trabalho a vida deve ser vivida noutras vertentes. Refiro-me ao acto de viajar, de moto particularmente, que permite auscultar de perto a vida dos lugares, as suas gentes, os costumes, os monumentos, as paisagens e saborear a gastronomia, tudo isso potenciando o prazer que lhe está inerente. Viajar enriquece o espírito ! A vida é muito bem vivida se todos os momentos forem importantes. E ás vezes nem é preciso viajar para muito longe ! Basta percorrer algum dos muitos recantos deste país tantas vezes ignorados, mas de rara beleza e interesse, para quantas vezes nos assolar á memória um pensamento de autocensura: como é possível, aqui tão perto e nunca lá fui?!

2.Estou eu para aqui com estas tagarelices, afinal para relatar um passeio que me propus fazer no passado domingo, dia 12 de Agosto de 2007, na minha querida Honda CBF1000 e que consistia em “ desbravar as terras “ que nunca antes percorri, apesar de tantas vezes ter estado tão perto e que vão desde S. Jacinto, povoação situada imediatamente a norte do Forte da Barra de Aveiro, mas dela separada pela denominada Ria que se estende para norte até Ovar. Comecei esta minha modesta epopeia precisamente no Forte da Barra ( que fica na freguesia da Gafanha da Nazaré, Concelho de Ílhavo, Distrito de Aveiro, mais concretamente onde é a capitania do porto ), fazendo uma breve paragem junto do Navio Museu Santo André ( um barco bacalhoeiro comprado pela Câmara de Ílhavo, fundeado na barra, acessível a visitas diárias excepto à segunda feira ), para de seguida fazer a travessia no “Ferry Boat “ Cale de Aveiro a operar desde há pouco tempo no local, que veio quebrar significativamente o isolamento daquela localidade outrora piscatória, encurtando distâncias que por terra eram de cerca de 60 Kms em relação à sede do concelho. Ao que parece, 51 anos antes que foi feito um pedido nesse sentido ao Ministério das Obras Públicas, pelo então governador civil de Aveiro, Valle Guimarães, ainda em pleno Estado Novo ! Mas enfim…

3. Tive a sorte de chegar no exacto momento que o Ferry estava para partir. As pessoas subiam e os carros, em bicha, iam sendo carregados. Perguntei a um funcionário como era, disse-me que de mota não precisava de estar na bicha e para dirigir-me ao colega que estava mais à frente a vender os tickets aos automobilistas á entrada do barco, o que fiz, tendo este dado ordem para avançar de imediato que depois iria falar comigo, o que aconteceu, vindo a pagar-lhe o bilhete durante a viajem ( só de ida: 2€ para a mota + 1,20€ cá do rapaz, não residente ). A mota viajou no descanso central, sem quaisquer amarras, em pleno corredor central formado pelas duas filas de automóveis que ocupam a sua largura. O barco é tão pesado que “não torce nem amola” durante a viagem, que dura no máximo uns 10 minutos, posto que as águas estivessem até agitadas pelas correntes da maré. Durante a curta viagem sente-se um raro prazer que é o de viajar de barco, como se fôssemos para terras longínquas … no rosto dos passageiros transparece um sorriso de felicidade e contentamento. Alguns saem dos carros para apreciar no exterior.

4. Saí do ferry a cavalo na mota a trabalhar para o cais de atracagem. Num ápice estava na rua marginal de S. Jacinto. Por ali havia muita gente a passear tranquilamente na marginal da ria, onde se respirava uma brisa marítima muito agradável, com muitos pescadores a pescar, com as suas canas de pesca em riste e as chumbadas fundeadas na ria. O quê não me perguntem, pois só sei que de entre dezenas ou centenas de canas de pesca, para lá dos limos que às vezes vêm agarrados e que as torcem pressagiando alguma boa pescaria não vi um só peixe pendurado nos anzóis. Mas enfim, a pesca é para pacientes. Para sul, ao longe, para lá da imensidão das águas esverdeadas da ria, avistam-se os edifícios da cidade de Aveiro e o Porto Comercial. Respira-se um ar fresco e a tranquilidade é assombrosa. Os cafés marginais estão apinhados de gente. Na pequena marina local encontravam-se fundeados vários barcos tão peculiares da região, os barcos moliceiros, pintados na proa e popa, com desenhos característicos de cores garridas, com figuras contornadas a preto, que são uma verdadeira arte popular, que se reflectem na água, transmitindo-lhe tons coloridos e ondulantes. A temática destes desenhos é, umas vezes, humorística; outras, crítica social, recorda factos históricos ou apresenta cenas de devoção religiosa. S. Jacinto é hoje vila e sede de freguesia, contando com uma base militar de paraquedistas da tutela do Exército com a denominação de Área Militar de S. Jacinto. A norte do lugar ficam localizadas as Dunas de S. Jacinto, tendo o oceano Atlântico a poente e um dos braços da Ria de Aveiro a nascente.

5. A indispensável lenda.Nos séculos mais recuados da História, o zona era conhecido por Areias, por ser desolada e imprópria para ser habitada, nunca foi alvo de forte movimento povoador, sabendo-se que no século XVIII apenas contava com dois moradores permanentes. Os que a demandavam eram essencialmente os pescadores. Integrada até meados do século XIX na jurisdição religiosa do pároco de Ovar, a freguesia viu abrirem-se novos horizontes em 1856 ao ver transferia a essa jurisdição, por ordem do bispo do Porto, para a paróquia da freguesia da Vera Cruz, na cidade de Aveiro. A proximidade á nova sede e a actividade e interesse então trouxeram novos ventos para S.Jacinto. Assim em 1888, realizou-se a plantação da sua hoje protegida mata de S.Jacinto, que permitiu fixar as dunas e o aproveitamento de terrenos incultos, mais alagados e húmidos.Porém isso não quer dizer que o lugar das Areias fosse desconhecido. Toda a gente das redondezas estava a par da sua fama. Porquê ?Por um único motivo, a existência da ermida dedicada à Senhora das Areias. Dentro dela se encontrava uma imagem milagrosa e de muita romagem: A Nossa Senhora da Conceição. Uma lenda esteve na base da construção da ermida, que segundo documentos, já existiria no século XV. Conta essa lenda que num certo dia entrou pela barra dentro um casco de navio que encalhou na costa das Areias, no interior do qual se descobriu uma pequena imagem da Nossa Senhora. Tal foi tido como motivo para a construção da ermida nesse local, a mando, segundo a tradição, do Cabido do Porto , na época o senhorio da região a quem cabia a dízima do pescado. Posteriormente, ao lado terá sido erguido um cruzeiro em 1584, que servia de ancoradouro de franquia das naus que demandavam o canal. Actualmente a ermida é a igreja matriz da freguesia.

6. Resolvi arrancar para norte, não sem antes passar pela Praia de S. Jacinto, de bandeira azul, areias douradas, claras e limpas. As águas do mar também parecem muito límpidas e puras. Há hora que ali passei, pelo número de banhistas, fica-se com a impressão de tratar-se duma praia pouco frequentada, logo recomendada a quem não gosta de grandes confusões. Bom, prossegui na minha rota pela N327, passando pela Torreira, povoação elevada a vila desde 1997. A Torreira faz parte do cordão litoral que se estende desde S.Jacinto até ao Furadouro(Ovar), numa extensão de cerca de 25Km, situada entre o Mar e a Ria, a 10Km por estrada da sede de concelho, a Murtosa. Apesar de todo o progresso tecnológico aqui se teima em praticar uma das artes mais antigas e típicas da região: a arte da xávega. A N327 margina a Ria, sendo uma estrada de bom piso asfáltico, totalmente plana, propiciando o desfrute duma singular paisagem, á esquerda o pinhal, à direita a ria. Há que abrir o capacete para respirar o ar fresco e o vislumbre da paisagem. À direita da N327, na Torreira, em plena ria somos surpreendidos uma invulgar marina: só barcos moliceiros, de cores múltiplas e garridas. É irresistível e a paragem é obrigatória. Qualquer fotógrafo encontra ali um bom motivo. O curioso é que na proa destes barcos, há alguns que ostentam a imagem de N. Senhora. Após fotos, rumei na direcção do centro, tendo apreciado a praia de extenso areal, limpo e dourado, mas muito frequentada. Estacionei a mota e fiz uma visita a pé pelas calçadas marginais e central. Uma enchente de gente, naturalmente, por ali saboreava o fim de tarde, de férias ou de domingo. Após a ronda, prossegui pela EN327 até ao Furadouro, Ovar, passando pelos lugares de Quintas do Sul, Quintas do Norte e Torrão do Lameiro. No Furadouro, fiz um passeio pela grande calçada marginal. Tudo belo e muito bem arranjado e a praia, imensa e limpa. Grande densidade de visitantes, também. O relógio já marcava 19.20H, ainda havia sol no horizonte a recomendar o regresso a casa, bastando atravessar Ovar. Mas dali até Esmoriz não seria longe e também porque só em teoria conhecia esta terra, decidi continuar para norte, passando ainda pela praia da Maceda. Finalmente cheguei a Esmoriz e, sem me aperceber, havia apanhado uma rua que deu exactamente para um bairro, aparentemente modesto e pobre, sendo olhado de soslaio por alguns indivíduos, de pele requeimada pelo sol e com um aspecto pouco simpático. Bem, lá dei com a rua que dava para o centro e aí sim, uma zona bem mais rica, com edifícios novos e modernos. Procurei pela marginal, onde estacionei, para tirar mais umas fotos, desta e da praia, também esta de areal imenso, dourado e limpo, com Espinho no horizonte a vislumbrar-se lá mais para norte. Não me vou alongar mais, senão isto nunca mais acaba, mas dei esta rota terminada em Esmoriz, tendo regressado, pela EN109 até Aveiro e daqui, pela A1 onde saí no nó de Condeixa-a-Nova. Foi assim mais uma rota aos comandos da CBF a descobrir este Portugal, por uma região tão bela, afinal aqui tão perto … e tão longe !

Passeio pela Batalha, S. Jorge e Aljubarrota, 622 anos depois.


1.Na passada terça-feira, dia 14/08/2007, da parte da tarde, parti de moto para terras que dispensam de apresentações e situadas no Distrito de Leiria. Não é possível compreender o significado dum passeio desta índole sem ter presente a história. Sem uma bagagem minimamente apetrechada não é possível apreciar e valorizar o significado dessa batalha e dos monumentos que ainda hoje pontificam no local. Direi mais, sem conhecimentos prévios da história, os passeios passam a ser “toscos”, sem significado, limitando o observador “a ver pedras e paredes “. Por isso o nosso imenso prazer de viajar de moto de mão dadas com a história.

2. Naquele dia celebrava-se o 622º aniversário da Batalha de Aljubarrota. Como todos sabem, a mesma decorreu no final da tarde de 14 de Agosto de 1385, entre tropas portuguesas comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira e o exército castelhano de D. Juan I de Castela. A batalha deu-se no campo de S. Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota. O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos e o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I como rei de Portugal, o primeiro da dinastia de Avis.

3. Que crise foi essa de 1383-1385 ?Como todos sabem também, essencialmente um grave problema de sucessão dinástica, suscitada pela morte do rei D. Fernando I ( 9º Rei de Portugal ), que no ano de 1383 estava a morrer...

a)D. Fernando sucedera no trono ao rei D. Pedro I, seu pai, ( D. Pedro era filho de Afonso IV ). D. Pedro foi o rei apaixonado D. Inês de Castro, a bela aia galega da sua mulher Constança. Inês acabaria assassinada por ordens do rei em 1355, mas isso não trouxe Pedro de volta à influência paterna e nunca lhe perdoou o assassinato de Inês. Uma vez coroado rei, em 1357, Pedro anunciou o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte e a sua intenção de a ver lembrada como Rainha de Portugal. Dois dos assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas), que lhe valeram os epítetos o Cruel, Cru ou Vingativo. Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-o como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte. De seguida, ordenou a execução de dois túmulos os quais foram colocados nas naves laterais do mosteiro de Alcobaça para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam...D. Pedro I teve três casamentos (incluindo D. Inês ), havendo sete filhos e ainda mais um fruto duma relação amorosa, no pós assassinato de Inês de Castro, com uma tal Teresa Lourenço, jovem lisboeta, filha de um mercador de nome Lourenço Martins. Dessa relação nasceu, em 14 de Agosto de 1356, um jovem a quem foi posto o nome de D. João, que o pai viria a confiar à guarda do avô, a fim de o educar e tornar cavaleiro, tendo-o mais tarde feito Mestre de Avis (não esquecer este pormenor ).Por morte de Pedro sucedeu-lhe o seu filho varão, D. Fernando ( D. Fernando I ) do casamento com a sua mulher ( legítima) a princesa D. Constança de Castela.

b) Mas chegados a 1383 D. Fernando I estava a morrer sem um filho varão que herdasse a coroa, havendo do seu casamento com Leonor Teles de Menezes apenas uma rapariga, Beatriz de Portugal, que havia sobrevivido à infância. O seu casamento era portanto da mais vital importância ao futuro do reino. As várias facções políticas discutiam entre si possíveis maridos, que incluíam príncipes ingleses e franceses. O casamento de D. Beatriz acabou por ser decidido como parte do tratado de paz de Salvaterra de Magos, que terminou a terceira guerra com Castela, em 1383. Pelas disposições deste tratado, o rei João I de Castela (Juan I ), casar-se-ia com D. Beatriz e o filho varão que nascesse desse casamento herdaria o reino de Portugal, se entretanto D. Fernando I morresse sem herdeiros. O casamento foi celebrado em Maio de 1383, mas não era uma solução aceite pela maioria dos portugueses, uma vez que implicava a união dinástica de Portugal e Castela e consequente perda de independência. Muitas personalidades quer da nobreza, quer da classe de mercadores e comerciantes estavam contra esta opção, mas não se encontravam unidos quanto à escolha alternativa. Dois candidatos emergiram, ambos meios irmãos bastardos do rei moribundo D. Fernando: - João, filho do Rei Pedro I de Portugal e Inês de Castro, a viver no momento em Castela;- João, Grão-Mestre de Aviz, o tal filho ilegítimo de Pedro I ( portanto meio irmão de Fernando ), fruto da relação deste com a amante Teresa Lourenço, aia de Inês de Castro, muito popular junto da classe média e aristocracia tradicional;A 22 de Outubro de 1383, Fernando de Portugal morre. De acordo com o contrato de casamento de Beatriz e Juan I de Castela, a regência do reino é entregue a Leonor Teles de Menezes, agora rainha viúva. A partir de então, as hipóteses de resolver o conflito de forma diplomática esgotaram-se e a facção independentista tomou medidas mais drásticas, iniciando a Crise de 1383-1385.Porém iniciaram-se as hostilidades e o primeiro acto foi tomado pela facção do Mestre de Aviz em Dezembro de 1383. D.João, Mestre de Avis e um grupo de conspiradores entram em Lisboa e assassinam o Conde Andeiro, amante e aliado político de Leonor Teles de Menezes, um dos principais orquestradores do casamento de Beatriz com o rei João I de Castela. Com esta iniciativa, D.João, Mestre de Avis torna-se no líder da facção separatista e chama para o seu lado Nuno Álvares Pereira, um líder militar com provas dadas. Juntos tomam as cidades de Lisboa, Beja, Portalegre, Estremoz e Évora. Como resposta, o rei Juan de Castela entra em Portugal e ocupa a estratégica cidade de Santarém, numa tentativa de normalizar a situação e assegurar o trono de sua mulher. A primeira vítima política é Leonor Teles de Menezes, que se provara uma regente pouco enérgica e incapaz de parar as conquistas da facção independentista. Juan I força a sogra a abdicar da regência e exila-a para um convento.

c)A resistência portuguesa e o exército castelhano encontram-se pela primeira vez a 6 de Abril de 1384, na batalha dos Atoleiros. Nuno Álvares Pereira soma mais uma vitória militar para a facção de Aviz, mas o confronto não é decisivo. Juan I de Castela retira para Lisboa e cerca a capital, com o auxílio da sua marinha que bloqueia o porto da cidade e controla o Tejo. O cerco era uma séria ameaça à causa de João de Aviz, uma vez que sem Lisboa, sem o seu comércio e dinheiro dele afluente, pouco podia ser feito contra Castela. Pelo seu lado, Juan I precisava de Lisboa não por razões financeira, mas por motivos de ordem política, uma vez que nem ele nem Beatriz haviam sido coroados e sem esta importante cerimónia, eram apenas pretendentes à coroa.Entre o fim de 1384, princípio de 1385, Nuno Álvares Pereira subjugou a maioria das cidades portuguesas que haviam declarado apoio à princesa Beatriz e ao marido Juan I de Castela. Durante a Páscoa, chegaram a Portugal as tropas inglesas enviadas em resposta ao pedido de ajuda feito por João de Aviz. Apesar de não serem um grande contingente, contavam-se à volta de 600 homens, eram tropas na sua maioria veteranas da Guerra dos Cem Anos, bem treinados nas tácticas de sucesso da infantaria inglesa. Com tudo a jogar a seu favor, João de Aviz organizou uma reunião das Cortes em Coimbra, juntando todas as figuras importantes do reino. É aí que, a 6 de Abril, foi aclamado João I, Rei de Portugal, primeiro da Dinastia de Aviz, num claro acto de guerra contra as pretensões castelhanas. Num dos seus primeiros éditos reais, João I nomeia Nuno Álvares Pereira Condestável ( quer dizer, chefe de todos os exércitos ) de Portugal e protector do reino.

d) Em Castela, Juan I não hesita em responder ao desafio, enviando, pouco depois da aclamação de Coimbra, uma expedição punitiva a Portugal. O resultado é a batalha de Trancoso em Maio, onde as tropas de João I obtêm uma importante vitória. Com esta derrota, o rei de Castela percebe por fim que necessita de um enorme exército para pôr fim àquilo que considera uma rebelião. Na segunda semana de Junho, a maioria do exército de Castela, comandado pelo rei em pessoa, acompanhado por um contingente de cavalaria francesa, entra em Portugal pelo Norte. Desta vez, o poder dos números estava do lado de Castela: Juan I contava com cerca de 30000 homens, para os apenas 6000 à disposição de João I de Portugal. A coluna dirige-se imediatamente para Sul, na direcção de Lisboa e Santarém, as principais cidades do reino.
Entretanto, João I e o Condestável encontravam-se perto de Tomar. João I decide interceptar o inimigo nas imediações de Leiria, perto da vila de Aljubarrota.

e)A 14 de Agosto, o exército castelhano, bastante lento dado o seu enorme contingente, encontra finalmente as tropas portuguesas, reforçadas com o destacamento inglês. O resultado deste encontro será a Batalha de Aljubarrota, travada ao estilo das batalhas de Crecy e Azincourt, onde a táctica usada permitia a pequenos exércitos resistir a grandes contingentes e cargas de cavalaria. O uso de archeiros nos flancos e de armadilhas ( Covas de Lobo e fosso) para impedir a progressão dos cavalos, localizadas em frente à infantaria, constituem os principais elementos. O exército castelhano não foi só derrotado: foi totalmente aniquilado. As perdas da batalha de Aljubarrota foram de tal forma graves que impediram Juan I de Castela de tentar nova invasão nos anos seguintes.Com esta vitória, João I foi reconhecido como rei de Portugal, pondo um fim ao interregno e à anarquia da Crise de 1383-1385. O reconhecimento de Castela chegaria apenas em 1411 com a assinatura do tratado de Ayton-Segovia. A aliança Luso-Inglesa seria renovada em 1386 no Tratado de Windsor e fortalecida com o casamento de João I com Filipa de Lencastre (filha de João de Gaunt). O tratado, ainda em vigor, estabeleceu um pacto de mútua ajuda entre Inglaterra e Portugal..

4. Na Batalha comecei por visitar o Mosteiro... O Convento de Santa Maria da Vitória (mais conhecido como Mosteiro da Batalha) foi mandado edificar por D. João I como agradecimento do auxílio divino e celebração da vitória na Batalha de Aljubarrota. É considerado património mundial pela UNESCO e em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. A sua construção começou em 1387 ou 1388 e estendeu-se até cerca de 1533, mobilizando fortes recursos humanos e materiais.É, de facto, uma obra grandiosa, uma maravilha e duma grande beleza arquitectónica. Nesta altura os turistas acorrem ao local aos milhares. O monumento encontra-se a ser objecto de obras de restauro que limitam seriamente o interesse da visita ( andaimes de ferro com panais a tapar !). O melhor será mesmo aguardar por uns tempos para depois lá voltar quando terminarem. Mesmo assim visitei a Capela Mor e a Capela do Fundador onde se encontram os túmulos de D. João I, D. Filipa de Lencastre e de seus filhos, denominados por Camões de "ínclita geração".Imponente também a enorme estátua de D. Nuno Álvares Pereira em cima do cavalo, este devidamente provido com “tudo” no sítio.

5. Depois de visitar a Batalha, regressei de novo ao IC2 em direcção a Lisboa, a cerca de 2 kms encontra-se São Jorge., onde pretendia visitar o museu militar e a capela. O campo fronteiro ao Museu, encontrava-se em obras e, este, encerrado ao público, estando a decorrer os trabalhos, tudo isto, no preciso dia do aniversário da Batalha… Acho que fica mal e o dia deveria ser respeitado.Fiz então a visita à Capela de S. Jorge. Foi implantada no sítio onde, no dia da batalha, a 14 de Agosto de 1385, D. Nuno havia depositado o seu estandarte. O local escolhido não foi um acaso, pois nas manobras de posicionamento dos exércitos, a hoste comandada pelo Condestável havia encontrado esta "pequena elevação com visibilidade técnica sobre o campo de batalha.

6. Regressando ao IC2 segui para sul até encontrar, logo após São Jorge, uma saída à direita para Aljubarrota ( e Alcobaça), pela EN8.Percorrer cerca de 5 Kms até chegar à Vila de Aljubarrota. Uma vez chegado á placa da localidade, estacionei junto a um largo duma igreja, cujo acesso à rua interior estava vedado. Porquê ? Porque se encontrava a decorrer o evento “Aljubarrota Medieval “. A partir daqui iniciei o percurso pedestre pela vila.

a)A povoação conserva a traça antiga de natureza histórico-medieval, com prédios caracterizados pelo uso de cantarias, colunas, janelas de geometria vária, cor branca nas paredes e volumetria que não ultrapassa o primeiro andar. A vila é rica em motivos arquitectónicos, memórias históricas e pedras ancestrais, que constituem um museu vivo da História portuguesa.Ex-libris de Aljubarrota é o Largo do Pelourinho, constituído pelo pelourinho, torre sineira isolada e casas das Juntas. Mais á frente á esquerda numa Rua, num largo, fica a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, o mais antigo monumento de Aljubarrota e o de maior relevo histórico, pois aqui rezou D. Nuno Álvares Pereira, antes da batalha.Neste largo fica também a Casa dos Capitães, um belo edifício do século XVIII com janelas aventaladas, cuja reconstrução, constante de uma lápide é de 1779.Situada na Rua Direita fica a Casa dos Carvalhos, edifício do século XVIII, de acordo com a data de 1778 que encima uma das portas.Na praça Brites de Almeida, enquadrada pelo conjunto constituído pela Casa do Celeiro e ruínas da Casa da Padeira, fica a estátua de Brites de Almeida ("a estátua da Padeira"). Na parede da casa do Celeiro, diversos azulejos pintados lembram os oragos e vários motivos de Aljubarrota. O povo de Aljubarrota guarda a sua pá em ferro martelado coevo. Pode ser vista na casa solarenga da família Carreira, descendente dos Capitães de Aljubarrota, na Rua Direita.

b) Neste passeio pedestre pelas ruas, fui então admirando os figurantes que deambulavam por ali, uns pela a pé, outros, sentados juntos de tendas, aposentos, currais etc. etc. Enfermo, malabaristas, músicos, comerciantes, artesãos, lenhadores, petiscos medievais, taverna e muita animação a cargo de muitos figurantes.O que mais me surpreendeu foi a sua atitude, parece que ali se encontram em plena idade média, andam metidos na sua vida e não ligam aos transeuntes, não dialogam, como se nós, fôssemos os observadores ali caídos no tempo para os ver. Andam na sua vida, algures no tempo e na tranquilidade, sem pressas, até porque nem sequer havia relógios. FASCINANTE !O único diálogo que tive, foi numa taverna, dentro dum quintal térreo, revestido de palha, onde havia mesas e bancos, ao lado uma cavalariça e um guarda medieval, sítio em parte enublado pelo fumo que brotava do lume onde se assavam umas viandas. Então entrei e pedi uma “ cevada “, tirada dum barril disfarçado ( a não ser que naquele tempo já tivesse cerveja de barril tirada com gás ) servida num copo de barro fresquinho, tão saborosa…
Assisti também a uma cerimónia de descerramento dum busto em homenagem a Eugénio dos Santos. Fiquei a saber que Eugénio dos Santos nasceu em Aljubarrota, em 1711, e foi o autor do projecto da reconstrução da Baixa Pombalina, em Lisboa, após o terramoto de 1755. A sua obra, o Terreiro do Paço e a Baixa, permanece.
Terminei o passeio, eram para aí umas 20.30H, tendo rumado para norte na direcção do IC2, para rumar direito a casa.
Mais um belo passeio a descobrir Portugal e a sua história, em moto. Deixo aqui o testemunho desta viagem ( fotos ) que com muito prazer venho partilhar com a comunidade virtual em geral e a cbfista muito particularmente.Peço desculpa pelo longo texto, mas não tive tempo para escrever em menos …

Passeio à Serra da Lousã, num sábado soalheiro de Julho de 2007


1.Finalmente parece que chegou o verão com mais um brutal dia de calor a marcar o dia de hoje ( 28-07-2007) por estas bandas, a fazer esquecer o passado recente de chuva atrás de chuva. Logo pela manhã arranquei com um grupo de amigos emigrantes que estão por cá para passar férias para um passeio de BTT. E se o sol ameaçava aquecer, bem o fez e acabámos por enfrentar um calor infernal.


2.De tarde, após a hora de almoço, como que por mero acaso colocou-se a hipótese de ir “ dar-mos uma volta de mota “. E assim foi, pouco passava das 15.00H, debaixo do dito sol arrasador ( uma sesta era mais tentadora ) e lá partimos. Eu na minha Honda CBF 1000 e o meu amigo Ilídio ( que está no Luxemburgo) pediu a mota ao irmão ( uma choper, Honda Shadow 600 , vermelha). Pus-me a congeminar e, para contrariar a tendência não fui para as praias, certamente muito concorridas ou para o lado do mar, preferi ir para a montanha, fugir do bulício do verão e da confusão, à procura do verde, do ar fresco, da calmia paisagística para curar o espírito das mazelas adquiridas pelas contrariedades da semana ( leia-se “stress”). Muito bem e o destino foi nada mais nada menos do que a imponente SERRA DA LOUSÃ.

3.Situada no centro de Portugal, é um dos melhores destinos de Portugal para a prática de muitas modalidades ( BTT, Enduro, Passeios Pedestres, Todo-Terrreno, Parapente, ciclismo, etc.etc.), mas também uma excelência para o moto turismo. Um lugar imperdível para visitar de moto, onde qualquer motard que se preze tem de vir ... A Serra caracteriza-se pela sua magnitude e simplicidade, apresentando-se com a sua rusticidade própria, que caracteriza os espaços naturais, pouco sujeitos a agressões e intervenções humanas. Neste particular, destacam-se as aldeias serranas e os diversos percursos naturais. Viajar de mota por aqui permite o contacto com uma elevada diversidade de paisagens, algumas de cortar a respiração pela sua beleza e magnitude, como pelo contacto com a fauna variada ali existente.Contudo, também nas suas faldas, esta montanha encerra autênticos tesouros paisagísticos e monumentais. É o caso, por exemplo, do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, vale quase encantado, onde junto ao rio que ali corre, se erguem escarpas altivas, encimadas por um complexo religioso de grande beleza, a cujos pés se destacam as piscinas fluviais, cuja outra margem se encontra marcada pela existência de um morro encimado por um castelo medieval, que remonta ao século XI. Mas se a Serra da Lousã, nos proporciona as riquezas naturais mencionadas, chegados ao vale amplo e verdejante, ergue-se uma vila pujante de desenvolvimento, e em que a harmonia entre o novo e o histórico, é característica principal. Destacam-se neste aglomerado habitacional, além dum enorme crescimento urbano com edifícios modernos ( a Lousã tornou-se numa espécie de dormitório de Coimbra, onde a construção é mais barata em relação ao resto do país, servida por uma linha de caminho de ferro que, segundo se diz, é a única lucrativa ), a excelência da arquitectura dos seculos XVIII e XIX, cuja manifestação por excelência, surge corporizada nos vários solares e palácio existentes na parte velha da vila. Destaque especial merece, igualmente, o pelourinho existente nos Paços do Concelho, o qual se encontra, conjuntamente com o castelo, classificado como monumento nacional.

4. Iniciámos esta visita, com uma paragem junto aos Paços do Concelho, para uma breve visita e colheita de fotos junto à Câmara e Jardim Municipal. Após rumamos na direcção do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, onde se situa também o Castelo ( todo edificado em xisto ) e uma praia fluvial. Visita ao Castelo. Após, desce-se numa estrada íngreme até ao fundo, onde corre um rio e ali, uma belíssima praia fluvial toda ela revestida de xisto e com muitos (e muitas) banhistas ( pena que não tivesse levado uns calções e uma toalha, pois o calor da tarde convidava ao mergulho ). Sobe-se depois por uma escadaria de pedra até ao dito santuário da Srª da Piedade, ali mandado construir por um militar da terra em 1624. O calor aperta e é tempo de beber água fresca a custo zero. Eu explico-me, abundam por ali umas fontes de água corrente, muito fresca e, pressionados pelo calor intenso da tarde é só abaixar, aparar com a mão e beber. Em cima visitamos a capela da Srª da Piedade. Mais uma passeata por caminhos rodeados por construções rústicas de xisto e jardins e voltámos para as motas que ficaram a descansar à beira da estrada junto ao castelo.
Voltamos depois á estrada principal que vai para Castanheira de Pera, que é a principal que atravessa a Serra, alcatroada e provida de curvas consecutivas muito agradáveis de dar, enquanto se vai apreciando a beleza da paisagem ( cuidado com as distracções ), se respira o ar puro e se vai flutuando na tranquilidade e na calmia da tarde…
Chegámos a uma cortada para uma aldeia serrana. Será a primeira e a única a visitar, visto que a tarde já vai longa e não há muito tempo. Chama-se Cerdeira, fica à esquerda, à distância de 1,5Km e onde só se chega por um caminho em terra batida em subida íngreme. Não é que sejam motas trails, mas com coragem avançámos e fomos até lá. Ali chegados, tivemos de parar junto dum capela que pontifica à entrada. As motas ficam ali no descanso. Só podemos descobrir a aldeia caminhando de pé. Há uma fonte que nos dá as boas vindas e o jorrar da água no riacho ao lado é o único «ruído» que rasga o silêncio do local … incrível. A aldeia fica toda rodeada dum imenso arvoredo. Não há ruas, há espaços para saborear. Há paredes em xisto para olhar. Há o cheiro das ervas. Não avistámos vivalma. Após as apreciações, voltámos ás motas. Inicia-se a descida pela estrada poeirenta, venho com o motor parado e seguro a mota com os travões, até chegar ao alcatrão.
Prosseguimos na subida da serra pela predita estrada asfáltica, passamos pela 2ª aldeia, o Candal, que por sinal até margina a estrada. Breve paragem. Mas a tarde vai avançando e não há tempo a perder, rumamos até ao ponto mais alto da serra, o Altar do TREVIM. Ali chegámos, com o sol a pôr-se quase a pôr-se no horizonte. É a cerca de 20 quilómetros da Lousã, quando a estrada que galga a Serra atinge a altitude de 1.000 metros, ramifica-se para a esquerda uma estrada de alcatrão, que conduz ao Trevim e ao Santo António da Neve, os dois picos culminantes da Serra da Lousã, com 1.200 e 1.180 metros de altitude, respectivamente.
Ali se situa um conjunto de antenas retransmissoras da rádio e TV. Paramos para apreciar a paisagem imensa e infinita e saborear o silêncio e a calma do alto da montanha, com o sol a pôr-se no horizonte. Os montes ao redor parecem infinitos e estão recortados em sucessivas ondulações. A vista é esplêndida
Esta era a meta final, já não tivemos tempo para ir ao Santo António da Neve, situado num outro monte ao lado para nascente (antigo Cabeço do Pereiro ). Ali se ergue a Capela de Santo António da Neve em honra de Santo António, mandada construir por um tal neveiro–mor da casa real, passando assim o local a chamar-se Santo António da Neve ( avista-se lindamente do Trevim ).
( Como nota de curiosidade, saibam que ali existe um poço real neveiro, de onde saía gelo para a corte, em Lisboa. Os homens desciam ao fundo destes poços, usando escadas de mão, feitas em madeira. A neve conservava-se nestes reservatórios até ao verão, sendo levada para Lisboa, no verão, cortada em blocos, cuidadosamente envolvidos em palha, fetos, mesmo em serapilheiras ou, ainda, metidos em caixotes. O transporte era feito, numa primeira etapa, em carros de bois. Este transporte de neve era assistido por protecções legais, como as que abrigavam os povos dos múltiplos lugarejos encontrados pelo caminho a repararem ou substituírem, com rapidez, as carroças danificadas. Do mesmo modo eram facilitadas as passagens de neve pelas portagens ao tempo existentes ).
Mereceu a pena vir foi um rico passeio sem contar.
Fizemos depois a descida até à Lousã, toda ela em tout-vénant e muito poeirenta, espetando um valente castigo à aos pneus, mas a mota bem que precisa duma lavagem. Após, rumo até Coimbra para fazer umas compras urgentes num shopping . Chegada a casa, 22.30H.
Mais um dia valente, passado e propiciado pela minha querida CBF. Bom Domingo a todos !

5. Como nota de curiosidade, do Pico do Trevim ( tal alto das antenas ) abrange-se um dos mais vastos, senão o mais vasto panorama que das serras de Portugal se pode abranger. Para quem está voltado para o Sul é esse panorama limitado pela Serra do Muradal, Serras de Vila Velha de Rodão e mação, Alto Alentejo, Serra de Aire, Serra dos Candeeiros, o Mar e a Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz); e para quem se volta para o Norte os limites são o Mar. o Bussaco, o Caramulo, o Montemuro, a Estrela, a Gardunha, até se encontrar de novo a Serra do Murada, que limita pelo noroeste a região de Castelo Branco. Dentro desta extensa região, que deve ser sensivelmente um terço de Portugal continental, veem-se Coimbra, Montemor, Figueira, Miranda, Anadia, Cantanhede, Penacova, Poiares, S.tª Comba Dão, Tondela, Oliveira do Hospital, Nelas, Mangualde, Fornos, Gouveia, Cernache do Bonjardim, etc., e centenares de outras mais pequenas povoações. Junto à Serra, mil e tal metros mais abaixo, as veigas da Lousã, Miranda e Góis, e para sul o vale da Ribeira de Pêra, onde as povoações se encostam umas às outras: Castanheira, Coentrais, Sernadas, Sapateira, Bôlo, Vilar, Troviscal, etc.