POR PENAMACOR, SORTELHA, SABUGAL E ALFAIATES, DIA 28/09/2007
1.Há 700 anos, o rio Côa servia de fronteira natural entre os reinos ibéricos. Mas com o tratado de Alcanices, D. Dinis avançou a fronteira além Côa, cedendo como contrapartida a Castela algumas Praças Fortes a sul.
Só em teoria conhecia parte dessa região pelo que, apostado em conhecer o meu país, há meses que alimentava a ideia de fazer por lá uma passeata, sistematicamente adiada, no meu cavalo CBF1000.Na pretérita semana o tempo correu de feição, solarengo e de temperaturas amenas, pelo que o fim-de-semana se mostrava apropriado também. Eis senão quando verifico pelo http://www.meteo.pt/, uma previsão intolerável de chuva para sábado e domingo. Mais uma vez, era o desmoronar do projecto. Porém, chegado o sexta-feira de manha, dia 28 do mês de Setembro, deste ano da graça de 2007, perante um dia de sol radioso logo pela manhã, cogitei deixar o serviço e pôr-me a caminho, porque é triste na semana laboral fazer bom tempo e depois ao fim de semana vem o mau. De quem é a culpa não me perguntem. Assim fiz, quebrei a rotina, equipei-me, passei por casa dum amigo a quem entretanto telefonara para o levar de pendura ( quando se trata de passeio e fotografia aproveita e ás vezes vem), tendo partido na direcção de Pombal e, pelo IC8 até à A23, saindo depois na saída norte de Castelo Branco que liga á EN233, rumo a Penamacor, Sortelha, Sabugal e Alfaiates.
2. PENAMACOR – CAPITAL DO LINCE
A Vila de Penamacor é sede de concelho e de freguesia, pertence ao distrito de Castelo Branco. O concelho situa-se na Beira Baixa e é constituído por 12 freguesias. A norte faz limite com o concelho do Sabugal, a sul com a Idanha-a-Nova, a oeste com o Fundão e a leste faz fronteira com a Espanha.
As origens de Penamacor estão envoltas na bruma dos tempos, pouco se conhecendo de seguro a seu respeito. Afirma-se que esta vila foi pátria do rei Wamba, um rei dos Godos que governou a península desde 672 até 682. D. Sancho I, conquistou-a aos Mouros e reconstruiu-a. Deu-lhe foral em 1189 e entregou-a aos Templários na figura do seu mestre D. Gualdim Pais, que a fortificou. Funda o seu castelo ficando a ser peça importante na defesa desta região, pelos reinados de D. Dinis, D. Fernando e D. João I, que foram fazendo acrescentos ao castelo, para atingir na guerra da restauração uma importância relevante e estratégica sobre a fronteira.
Atingida por um raio em 1739, fez saltar a torre de menagem que hoje se chama de vigia por via de funcionar como paiol de pólvora.
Chegámos a Penamacor à volta das 14.00Horas e sem almoço porque não haveria sequer tempo para uma coisa facilmente prescindível, com algumas prévias e curtas paragens, para apreciar as paisagens e tirar umas fotos.
É surpreendente como a região denota logo não possuir aquela agitação própria dos lugares frequentados por multidões e ambientes sofisticados. Impera a calma, o silêncio, o longínquo horizonte, monumentos e casas graníticos e os odores da Natureza selvagem. Penamacor será aquela terra de quem busca paz e sossego, terra genuína e autêntica de gentes beirãs, parece ficar longe de tudo no meio de nenhures.
Começamos por subir à zona histórica onde existe um miradouro. Estaciono a mota numa rua de casas graníticas e tradicionais, para de seguida ir ao miradouro, onde se alcança uma vista impar ao seu redor, os telhados e ruelas da vila, as muralhas do castelo, a torre de menagem que hoje se chama de vigia, isolada sobre grandes rochas de granito, igrejas, pelourinho e o longínquo horizonte, sulcado por aprazíveis vales e ribeiras, bem como mais a norte a Serra da Malcata e para o sul Monsanto.
Após iniciamos uma breve incursão pedestre pelas ruas históricas até à Torre (onde se alcança uma vista esplêndida sobre a região), poço de el-rei, muralhas, o pelourinho junto duma porta de entrada para a antiga vila.
No final descemos de moto e percorremos algumas ruas da vila, evidenciando-se aquela calma reinante, com alguns a lançarem os seus olhares, pois ali somos estranhos. O estômago teima em dar horas, mas não há tempo a perder!
Atravessámos a vila e saímos no acesso norte para prosseguir pela EN233 em direcção ao Sabugal, tendo avistado as placas indicativas da Reserva Natural da Malcata (uma das serras mais bonitas de Portugal no estado verde mais puro), santuário do Lince Ibérico, mas não visitámos para não encurtar o tempo sobrante (ficará para outra altura, fica o reconhecimento deste belo local). Placas postadas á entrada afirmam ser Penamacor a capital do Lince.
Depois de passar por Meimoa e Vale da Sra. Da Póvoa, chega-se a um cruzamento onde à esquerda virámos para a N18-3, com destino a Sortelha.
3. SORTELHA: ALDEIA MUSEU DE PORTUGAL
Sortelha fica situada numa região de terrenos graníticos e relevos acidentados, distando 14 km do Sabugal, num território de passagem entre a denominada meseta ibérica e a depressão da Cova da Beira.
Sortelha é uma aldeia de granito tipicamente medieval, fechada por muralhas e vigiada por um castelo, situado no extremo sudeste da povoação, no ponto mais elevado, completamente assente sobre um pináculo rochoso e granítico.
Ali chegados os panorama é deslumbrante, é o fascínio do regresso ao passado. Iniciámos a visita pedestre pelas ruas da aldeia até ao castelo, muralhas e pelourinho. Do seu património destacam-se ainda diversas igrejas e capelas. A fome aperta e procuro saciar-me numas figueiras que cresceram entre rochas e paredes da aldeia. Ninguém me viu, mas se visse, tinha uma boa defesa: estado de necessidade desculpaste. Ou talvez não, pois o prato típico da região é a caldeirada de cabrito e o queijo. Outros sabores que se podiam descobrir eram os enchidos, a perdiz, o coelho à caçador, a sopa do lavrador, o doce de castanhas, o doce de abóbora, as papas de milho, e o pão de lho. Tudo ideias … mas não havia tempo nem eram horas para isso!
No final umas senhoras idosas, sentadas num banco de pedra, com as suas mãos calejadas e rugosas, encontravam-se aplicadas a fazer cestos de gracejo (gracejo é uma planta parecida com junco, que uma vez seca dela se fazem tranças para cestos, cozidos com uma agulha e linha), tendo proposto a compra, ao que lá anuímos...
O meu amigo ofereceu-me uma das sandes que levara à pressa e ofereceu-me uma (eram mais de 5 da tarde). Lá aceitei e quando me preparava para tão faustoso lanche, sentado naquele banco à entrada, logo fiquei rodeado de gatos, que miavam intensamente, famintos imploravam-me por um naco de pão. … Para não ter problemas de consciência (;-)) logo o parti e distribui pelos pobres bichos, ficando eu a miar com um “ rato no estômago”. Dito de outro modo, os gatos comeram o pão e eu o rato!
SORTELHA É UM DESTINO OBRIGATÓRIO PARA QUALQUER MOTOTURISTA.
4. SABUGAL
Prosseguimos viagem agora por uma estrada que dá directamente ao Sabugal, onde chegámos já com o sol quase a pôr-se no horizonte.
O Sabugal é cidade ( desde 2004) e sede de concelho, pertencente ao Distrito da Guarda, região Centro e subregião da Beira Interior Norte. Fica em Terras de RIBA- COA, assim como Pinhel, Almeida, Meda e Figueira de Castelo Rodrigo, zona de charneira entre a meseta ibérica e a Cova da Beira. Esta região tem touradas, diferentes das que se realizam pelo país fora, as célebres Capeias Arraianas.
Situa-se e em local sobranceiro ao Rio Côa tendo pertencido ao reino de Leão. Em 1175, pertencia ao concelho de Ciudad Rodrigo mas em 1190, D. Afonso IX de Leão funda o concelho do Sabugal e teria mandado edificar o castelo. No reinado de D. Dinis, passou a integrar definitivamente o território português, após a sua conquista ao reino de Leão e ter sido assegurada a sua pertença a Portugal, pelo tratado de Alcanices ( 1296).
O castelo é imponente e de grande beleza e bem conservado (parece é que, como aliás do de Penamacor, serviu no passado para as gentes retirarem pedra para as suas habitações ).
Segundo a tradição, terá sido junto a este castelo que se deu o milagre das rosas, quando a Rainha Santa Isabel, que distribuía esmolas, converteu as moedas em rosas, enganando o rei D. Dinis.
Arrancámos não sem dar uma breve ronda pelas ruas da cidade, para, com na noite a adivinhar-se, ainda passarmos por Alfaiates, já perto da fronteira.
5. ALFAIATES
Seguimos pela EN233-3 para Alfaiates. Esta aldeia situa-se em local planáltico, delimitado por terreiro e com construções.
Teve provável origem no séc. XIII com concessão de Carta de Foros e Costumes por Afonso X de Leão e então designado por Castillo de la Luna. Em 1297 passou a integrar o território português na sequência do Tratado de Alcañices.
Possui um castelo, rodeado por uma dupla cintura de muralhas, parcialmente ruídas e encerrado ao público, pelos vistos por haver risco da queda de pedras, conforme me relatou uma senhora de sotaque francês que assomou á porta. Após algumas fotos, mais uma ronda pelas ruelas de casas graníticas para abalar e dar por concluído o projecto.
Agora, enfrentávamos um dilema: regressar pelo mesmo caminho ou inovar seguindo até Vilar Formoso, ali já bem perto.
6. VILAR FORMOSO
Antevendo uma chegada mais rápida pela A25 ( ex-IP5) e por outra boa razão que ao adiante menciono, rumei até Vilar Formoso, pela N332, com o sol a pôr-se horizonte e pelo crepúsculo, percorrendo zona de planície, enquanto apreciava, como podia, a paisagem circundante, de perder de vista, vendo-se ao longe no horizonte, do lado espanhol, a cortá-lo, uma montanha, formando um quadro de invulgar beleza paisagística. Chegado a Vilar Formoso, tratei num ápice de passar a fronteira para atestar do lado de lá, ao preço de 1,01€/litro a gasolina 95 (enchi o depósito com 15€). Além disso, as bombas da cá pareceram-me encerradas umas, outras, com funcionários a ler o jornal …
E a fome? Quase que me esquecia que só tinha ingerido uns figos. Ah, e um rato. Voltas e mais voltas, entrei num restaurante apinhado de tujas, logo á saída da fronteira, do lado direito. O prato típico era as bifanas e “superlotes”, às dezenas. E foi assim que enganei a fome, tudo acamado por um café para despertar, quando tinha ainda 250Kms até casa.
Foi depois aquela viagem rápida, pela A24 (com um corte policial na zona das bombas da BP, para controle, ao que me pareceu, da entrada de estrangeiros, pois sendo fim de semana há muito movimento), parar para vestir umas roupas sobressalentes para enfrentar o frio já rigoroso e rumar até Viseu, para depois cortar pelo IP3 até Coimbra.
A viagem correu às mil maravilhas, embora o passeio fosse um pouco rápido e justificasse talvez aí uns dois dias para visitar tudo com calma, incluindo a Serra da Malcata que ficou por descobrir.
Eis como no espaço de 12 horas percorri uma zona do país, até então e para mim, desconhecida. Ninguém diga que as CBF'S não concorrem para a promoção cultural dos seus utilizadores …
Altamente recomendado!
Boas curvas e aquele abraço
Boas curvas e aquele abraço
®Virco
1 comentário:
Parabéns pelas informações sobre seus passeios.
Lindos lugares.
Saudações estradeiras,
Wilson L Negrini de Carvalho
http://motoamizade.blogspot.com
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