quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Passeio pelo nordeste Alentejano até à mui nobre e fidalga Vila Viçosa

















6/10/2007

1º§ - Há muito que esperava pelo dia em que pudesse visitar Vila Viçosa. Foi no ano passado, que, em serviço por Cascais juntando o útil ao agradável visitei o Palácio da Pena, na Serra de Sintra e logo fiquei maravilhado pelo local, pitoresco e aprazível, com a sua floresta ao redor, encantada e fascinante e, por inerência, pela vida da última família da nossa monarquia ( portanto do período imediatamente anterior á implantação da República ). Foi neste local que me apercebi que na fatídica noite que precedeu o assassinato do Rei D. Carlos e do seu filho primogénito e sucessor, a família real estivera no Paço Ducal de Vila Viçosa. Daqui o contágio e a vontade de visitar e conhecer Vila Viçosa…

2º§ - Tinha feito uns quantos telefonemas para ouvir justificações duns amigos para dizerem não poder ir. Porém, cheguei ao dia “D” no passado sábado dia 6/10/2007, por sinal dia do meu aniversário e dia dos Castelos. Pelas 5.00H da matina ainda fazia noite, saltei da cama porque a insónia era dum tamanho maior que o meu inútil despertador… A vila encontrava-se profundamente adormecida. Certamente ninguém deu conta de mim, quase até que podia ouvir o ronco do ressonar…
O objectivo era rumar ao nordeste do Alentejo e visitar a «mui nobre e fidalga» Vila Viçosa.
E assim parti para surpresa numa madrugada repleta de nevoeiro, de escassa visibilidade e algo friorenta. Ainda em casa e com o calor enganador intramuros, só me apetecia levar as roupas normais. Porém, no decurso da viagem, com um frio acentuado e a brisa do nevoeiro á mistura, dei graças a Deus por trazer o fato de inverno, com o blusão montado do forro em “H2Out” e as calças “Dainese” de “ Goretex”.
Segui pelo IC3, passando por Condeixa-a-Nova, Penela e por uns quanto lugarejos até chegar a Tomar. Com o avanço da viagem, tendo como única companhia o ronco do propulsor da CBF1000, quilómetros e após quilómetros, eis que nevoeiro não dava sinais de abrandar, quando o meu prognóstico era de que mais alguns quilómetros depois e logo desapareceria. Praticamente só conseguia avançar vendo uma nesga de estrada, uns escassos metros na minha frente, o perigo era uma constante a cada curva. A visibilidade estava ameaçada, a brisa do nevoeiro batia na viseira do capacete e encharcava-a, de vez em quando amainava quando passava a luva, para logo depois voltar a encharcar e voltar a não ver nada e assim sucessivamente. O remédio foi levantar a viseira e levar com a brisa na fronha. Comecei a resfriar da face, o esforço era tremendo, estava tudo muito complicado de tal ordem que ainda coloquei a hipótese em desistir e voltar ao conforto do ninho …
Porém não desisti e resolvi prosseguir. A pouco e pouco, fui vendo o romper da aurora, o dia chegar às aldeias sonolentas, aos campos e montes e a pouco e pouco a vida parece voltar. Parei para abastecer num posto de gasolina, pouco passava das 7.00H. Com os joelhos regelados, pergunto ao gasolineiro, homem de poucas falas, se têm casa de banho, para depois vestir o forro das calças de goretex. Aquele mostra-se estranho e distante, de pouca confiança, ao ver um tipo assim vestido de negro.
Prossigo na viagem, agora sim, sinto um conforto excepcional, com o fato completo acolchoado pelos forros. Prossigo na viagem, enfrentando o maldito nevoeiro, que já perto de Tomar persiste em não dar sinais de abrandamento. Pretendia sair na direcção da barragem do Castelo do Bode e depois seguir para Abrantes, mas por causa do nevoeiro engano-me na rota, indo parar a uma povoação chamada Serra. Perguntei a uns tipos que logo bem cedo se prontificavam à porta da taberna, na certa para matarem o bicho com uma aguardente, se estaria no caminho certo para a barragem. Não, não estava, estava perdido, o melhor era voltar para trás, chegar a um lugar onde avistaria uma placa a dizer “ Cabeça do Homem” depois seguir “abaixo por S. Pedro” e lá chegaria. Assim fiz, bateu certo.
Chego á barragem de Castelo do Bode, páro para umas fotos. O nevoeiro é tão intenso que quase não deixa ver nada. Sigo a rota, querendo rumar até Abrantes, mas fui inesperadamente parar dentro de Constância. Como é possível ? Vai de rogar umas quantas pragas. Maldito nevoeiro, acho que nesta natureza perfeita tinha que sair uma aberração, pois não lhe lobrigo utilidade alguma. Voltas e mais voltas, sempre coberto do nevoeiro, as horas apertam e ainda não estou no Alentejo. Deparo-me com o acesso à A23, paro á entrada para dar uma olhada pelo mapa e resolvo seguir. Este troço Constância-Abrantes faz-se relativamente rápido e não se paga portagem. Atravesso Abrantes, de novo na companhia do nevoeiro, atravesso a cidade e só paro para perguntar se vou no caminho certo para o Alentejo ( “ sim, sim, sempre em frente, atravessa a ponte sobre o Tejo”). Assim fiz, atravesso o rio e passo por Rossio ao Sul do Tejo, prossigo pela EN2 até Ponte de Sor. A pouco e pouco, já em pleno Alentejo, o nevoeiro foi limpando e desaparece completamente, deixando avistar-se a melancólica vastidão da paisagem alentejana, dos montados de sobro e azinheiras. Em Ponte de Soe detenho-me para tomar o pequeno-almoço. Prossigo na viagem na direcção de Alter do Chão pela N119 e N369, com estradas quase rectas, de bom piso e acompanhado dos chaparros. Em Alter do Chão, à entrada divisa-se um monumento ao cavalo e um pouco antes, umas placas que indicam estarmos na Rota dos Vinhos do Alentejo. Fiz uma breve incursão à vila, parando junto ao Castelo, umas fotos e seguir em direcção a Fronteira pela N245, onde nem ao menos paro. Bem se avista um largo com umas quantas igrejas, um largo passeio de pedra calçada com uns bancos onde vários homens ali descansam logo pela manhã, olhando quando ouvem o aproximar duma mota pelo ronco do motor que ali lhes aparece quebrando a monotonia… Conheço os lugares atrás citados quando em tempo fui caçador e então me perdia em jornadas de caça pelo Alentejo, que hoje abandonei completamente, a ponto de a considerar uma actividade anacrónica e inútil, mas, pelos vistos, há quem a considere a tábua de salvação destas imensas planícies pelas receitas turísticas que pode gerar... Sigo para Sousel, sempre rodando pelas rectas destas planícies sem fim, petrificadas de sobreiros. Avistam-se então as vinhas bem cuidadas e uma herdade com um palacete muito digno. Junto à placa da localidade na entrada paro para registar o momento, mas a minha presença é logo detectada por um cão corpulento e de ladrar rouco, que não sossega, até a dona abrir a porta e espreitar para ver quem é. Ao ver-me a fotografar parece mais confiante e retorna à sua casita. Sigo até ao centro, passeio a pé junto a umas igrejas, depósito de água, o jardim e pelas ruelas típicas. Não me demoro porque não há tempo a perder. E lá vou eu, a cavalo da CBF 1000, com o seu fiável e binarento propulsor rumo a Estremoz. Já perto a paisagem muda os seus tons para os vinhedos bem conservados e trabalhados. Apetecia visitar as adegas daquelas herdades, mas o tempo urge. Ao longe avisto Estremoz.

3º§ - Conhecia Estremoz praticamente só de passagem, não estando nos meus planos, mas resolvi parar e fazer uma visita pela zona histórica. A torre de menagem e a muralha do seu castelo recortam o horizonte, dando um vero ar medieval. «Estremoz é uma rainha encerrada no seu nostálgico castelo. Tem uma terra sigilata e eternos veios de mármore ocultos nas entranhas. Agrária, artesã e doceira ».
Estacionei a mota junto do jardim na zona central. Eram horas de almoço, mas não corri ao primeiro restaurante, pois não há tempo para comer, há que aguentar. Contente fiz um passeio pedestre pela zona , não sem primeiro me desembaraçar dos forros das roupas que, agora sob o calor do Outono alentejano, me traziam a transpirar e “lavado em água!”. Visito as igrejas ali erguidas ao redor, cujos nomes, detalhes históricos e artísticos não vou expor, dando uma visita de relance ao mercado do Rossio, que ali se realiza aos sábados em plena rua. O calor aperta. Por surpresa encontro-me com uma velha colega de curso, para um breve cumprimento e dois dedos de conversa. Não sei o que ficou a pensar ao ver-me assim vestido, cabelo esgadelhado e com cheiro a suor que tresandava. Confesso-me que me senti atrapalhado …
Posto isto, após umas quantas fotos, foi tempo de rumar ate ao Castelo. Entrei por uma daquelas portas medievais rasgadas nas muralhas, do lado poente. Estacionei frente à torre de menagem onde, mesmo ao lado funciona uma estalagem ( penso que era uma antiga residência real). Aqui sente-se o regresso ao passado, um passado de esplendor, envolto nas lembranças das lutas de armas contra os mouros, dos amores adúlteros, das chacinas sangrentas e dos intermináveis festins que nunca mais se repetirão. Ali, onde a alma da cidade ficou presa como as princesas dos contos de fadas, onde a história tende a tornar-se imprecisa, a enredar-se nas malhas da lenda. Ali, na parte velha e petrificada que o ouro do tempo foi cobrindo. Ofegante a trepar ladeiras, escadinhas, ruas íngremes e lajeadas, fui percorrendo a zona histórica. O que me vai salvando é uma garrafa de água mineral que trago na top case, onde de vez em quando acorro para dessedentar-me. Presente uma estátua de Isabel de Aragão que no seu pedestal vai recebendo as famílias de turistas que procuram levar o retrato, sem vestígios de rosas nem de pães ... Imponente a sua torre de menagem. Mas eu não vim de propósito para visitar Estremoz e, se me demorar, falho o alvo principal. Há, pois, que prosseguir viagem.

§4º - Percorridos escassos 13Kms, pela EN4, fica Borba. Honra que seja feita, mas o melhor atractivo que tem é desde logo a Adega Cooperativa que fica à entrada, do lado direito. De resto, umas quantas ruas de traça antiga, onde abundam as lojas de antiguidades, várias igrejas seculares, um palácio, a muralha do antigo castelo e não lhe consigo alcançar outros pontos de grande interesse. A visita é rápida, sinto os primeiros sinais de “fome” , podia entrar num tasco qualquer, mas não, sigo rapidamente para Vila Viçosa, o meu objectivo, porque a tarde começa a avançar. À saída e no caminho para esta vila, avistamos as inúmeras pedreiras de extracção de mármore, com vários montes dessas pedras e gruas que não deixam dúvidas a ninguém, ou seja, estamos no coração das jazidas do mármore.
Até Vila Viçosa é rápido, são escassos 6 Kms. Também logo à entrada sigo para o miradouro, onde tiro umas fotos e me deparo com a entrada para a Tapada. O local tem uns eucaliptos de grande porte, sendo convidativo para um breve descanso. Até aqui resisti à vontade de comer ( sim, isto não é fome ) e então saco dumas sandes e cervejas que trazia à cautela na top case e improviso ali um pic-nic, bem à pressa, porque a tarde avança. O local é ermo e dois carros que ali estavam, acabam por arrancar, possivelmente assustados pela minha presença.

§5º - Desço pela estrada do miradouro e entro na estrada que dá acesso ao centro de Vila Viçosa, para logo, bem à entrada, localizado do lado direito, avistar o imponente PALÁCIO DUCAL DE VILA VIÇOSA, a morada ancestral dos Bragança, o meu objectivo principal. Foi a antiga residência dos Duques de Bragança desde os princípios do século XVI, a sua construção iniciou-se em 1501 - 1502 (na ala Norte) e completou-se já no século XVIII. A fachada principal é toda revestida de mármores da região e inspira-se na arquitectura italiana renascentista, com três andares. Aquele enorme espaço amplo á sua frente é o Terreiro do Paço, uma das mais belas praças do país, à direita a Capela Real e os Jardins do Paço.
[Aqui viveu aquele que, após a Restauração da Independência em 1 de Dezembro de 1640, na sequência do golpe dos conjurados contra o domínio espanhol de Portugal, pelos Filipes, foi o encabeçado para a causa e aclamado rei: D. João IV de Portugal, 8º duque de Bragança. Ao que reza a história, João aceitou a responsabilidade com relutância, incentivado sobretudo pela sua mulher Luísa de Gusmão.
Mais recentemente, aqui moraram, o Rei D. Carlos, a Rainha D. Amélia e os filhos D. Luis Filipe e D. Manuel. Como era habitual no início de cada ano, D. Carlos partiu com toda a família para Vila Viçosa e o seu palácio preferido. Aí reuniu pela última vez os seus amigos íntimos, promovendo as suas célebres caçadas. Entretanto, a situação política agravava-se em Lisboa, com a oposição ao franquismo, estalando uma revolta, abortada em 28 de Janeiro. João Franco decidiu ir mais longe e preparou um decreto prevendo o degredo sumário para as colónias asiáticas dos revoltosos republicanos. O rei assinou o decreto ainda em Vila Viçosa (consta que terá então dito: acabei de assinar a minha sentença de morte. A 1 de Fevereiro de 1908, a família real regressou a Lisboa depois de uma temporada no Palácio Ducal de Vila Viçosa. Viajaram de comboio até ao Barreiro, onde apanharam um vapor para o Terreiro do Paço. Esperavam-nos o governo e vários dignitários da corte. Após os cumprimentos, a família real subiu para uma carruagem aberta em direcção ao Palácio das Necessidades. A carruagem com a família real atravessou o Terreiro do Paço, onde foi atingida por disparos vindos da multidão que se juntara para saudar o rei. D.Carlos I morreu imediatamente, o herdeiro D.Luís Filipe ( de seu nome completo Luís Filipe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Bento de Bragança Saxe-Coburgo-Gotha ) foi ferido mortalmente e o infante D. Manuel num braço.
D. Manuel (de seu nome completo Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança),veio a ser solenemente aclamado Rei aos 18 anos de idade, em 6 de Maio de 1908. Foi o último rei de Portugal, passando à história como o nome de D. Manuel II. Entretanto a situação política degradou-se progressivamente, tendo-se sucedido vários governos em cerca de dois anos. As eleições legislativas de 28 de Agosto de 1910 fizeram aumentar substancialmente os deputados republicanos no parlamento, o que motivou bastante a causa revolucionária. A 4 de Outubro de 1910, começou uma revolução e no dia seguinte, 5 de Outubro deu-se a Implantação da República em Portugal. O Palácio das Necessidades, sua residência oficial, foi bombardeado, pelo que o monarca foi aconselhado a dirigir-se para o Palácio Nacional de Mafra, onde se lhe viriam a juntar a mãe, a Rainha D. Amélia de Orleães e a avó, a Rainha-mãe D. Maria Pia de Sabóia. No dia seguinte, consumada a vitória republicana em Lisboa e a adesão do resto do país ao novo regime, D. Manuel II decidiu-se pelo exílio, embarcando na Ericeira no iate real Amélia. O rei ainda tencionou seguir para o Porto, mas os oficiais a bordo demoveram-no dessa intenção. Desembarcou em Gibraltar, de onde seguiu para o Reino Unido, onde foi recebido pelo rei Jorge V. O rei, apesar de deposto e exilado, teve sempre um elevado grau de patriotismo, o que o levou, em 1915, a declarar no seu testamento a intenção de legar os seus bens pessoais (os da Casa de Bragança), ao Estado Português, manifestando também a sua vontade de ser sepultado em Portugal. Faleceu inesperadamente na sua residência, em 2 de Julho de 1932. O Governo Português, chefiado por Salazar, autorizou a sua sepultura em Lisboa, organizando funerais de estado. Os seus restos mortais chegaram a Portugal, em 2 de Agosto, sendo sepultados no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa].
Por sorte arranjei parque logo à entrada, pese embora o local estar muito concorrido com automóveis de turistas. Segui até à entrada e tiro o bilhete. Custa 5€ a visita interior ao Palácio, entrando grupos de 30 pessoas de cada vez, sendo necessário esperar.
A visita inicia-se e somos transportados para a escadaria principal que dá o hall principal. Logo ressalta a beleza interior do monumento. No interior das suas salas visitáveis guardam-se as peças das preciosas colecções de arte e as raríssimas espécies bibliográficas que pertenceram ao rei D. Manuel II. Destacam-se pinturas dos artistas portugueses do século passado ( Malhoa), ourivesaria, tapeçarias persas, flamengas, arraiolos, pinturas a fresco em paredes e tectos, mobiliário de estilo, porcelanas orientais, portuguesas, italianas e de outras origens, armaria antiga com peças raras de fabrico oriental, português, alemão, francês, etc. . Na sala principal das visitas, uma colecção de quadros dos duques de Bragança e dos que foram reis. Destaque para os quadros pintados pelo próprio rei D. Carlos ( rei artista), os seus aposentos e da Rainha D. Amélia, os berços dos príncipes, as camas, roupas, livros, pertences pessoais, como se ainda ali vivessem e se tivessem ausentado por instantes...
Saliente-se ainda o famoso quadro que representa o rei D. Carlos com o seu Estado Maior numa parada e que faz de capa dos livros de história, as porcelanas, a sala de jantar, a capela ( que diz o guia possuir uma excelente acústica e onde se realizam concertos ) e a cozinha com a grande colecção de apetrechos em cobre. Ainda a não esquecer são os jardins de arbustos verdes em minucioso recorte geométrico, de formas variadas. Por visitar ficou o museu dos coches.
Saí pela porta dos nós para a estrada que vem de Borba.
Este Palácio deve ser ponto obrigatório para qualquer turista e, muito especialmente, para qualquer moto turista que rume por estas paragens.

Prestei-me então a passear pela as ruas desta terra, histórica, linda e bela. Em geral os edifícios da zona histórica, conservam as suas fachadas de antanho, o que nos faz sentir como que de regresso ao passado. Qualquer fotógrafo ou pintor encontra aqui motivos de sobra. Rumo até ao imponente Castelo. A primitiva fortificação da Vila pertenceu ao rei D. Dinis, que lhe fundou o Castelo e a Cerca Velha, em obra levada a efeito na última década do século XIII. Este primeiro castelo, com a Torre de Menagem, desapareceu na segunda vintena do século XVI, quando os duques donatários D. Jaime e D. Teodósio I construíram a subsistente fortaleza artilheira, do tipo italiano mas seguindo o modelo das praças africanas e indostânicas que os portugueses haviam introduzido nas suas conquistas ultramarinas. No interior da muralha, uma fortaleza, rodeada por um fosso e possuindo uma ponte levadiça que dá acesso à porta principal. Azar, eram 18.00H e já havia encerrado, sendo que no seu interior se esconde um espólio urbano e artístico da grande valor, com destaque para um museu de arqueologia. Ficará para uma próxima…
Da colina deste castelo, no longínquo horizonte, avista-se Juromenha e mais ao longe, Olivença.


§ 6 º- Já passavam das 18.00H, o cansaço e o sono acumulados recomendavam um regresso antecipado… porém, resolvi resistir. O ideal era passar a noite ali, mas com a minha sócia a moer-me o juízo pelo telefone … “olha que o menino quer-te cantar os parabéns”, “ lá porque não tiveste disso, quero habituá-lo a festejar as datas de aniversário”, “ com quem andas ?”, blá, blá, etc. etc.
Pois bem, com Alandroal e Juromenha ali tão perto, não podia desperdiçar a oportunidade, rumando para sul até tais terras, fronteiriças e tão carregadas de história.
Percorridos cerca de 12 Kms, com o sol a pôr-se no horizonte nestas paragens alentejanas, chego ao Alandroal, para logo rumar até ao castelo, bem conservado e de extrema beleza, com uma igreja no seu interior. Foi edificado no reinado de D. Dinis, com 1298, como data de conclusão, segundo uma inscrição que se mantém na Torre de Menagem.
Percorro a muralha duma ponta à outra, ofegante sinto-me cansado e com sede. Vou a uma pequena taberna junto da entrada, para dessedentar-me, tive que beber uma superbock, porque não têm água.
Prossigo à pressa, porque a noite está praticamente a cair, sigo pela EN373 até Juromenha, uma aldeia fronteiriça junto ao rio Guadiana. Claro o ponto de interesse é o seu Castelo de Juromenha. Devido à sua posição estratégica, foi ocupada por povos anteriores ao domínio romano da península, e o próprio Júlio César, em 44 a. C., terá mandado reforçar as suas defesas.
A ocupação muçulmana durou quase dois séculos, mas em 1167, D. Afonso Henriques, tomou este castelo, que seria de novo conquistado pelo califa Almançor, para, em 1191, regressar definitivamente à posse portuguesa.
O rei D. Dinis, concedeu-lhe Carta de Foral em 1312, seguindo-se o reforço das suas defesas, de que fazia parte uma Torre de Menagem com cerca de 40 metros de altura. Durante a Guerra da Restauração foi construída uma nova fortificação. Também aqui, por volta de 1659, o paiol explodiu, destruindo muito das estruturas e causando bastantes mortes, também o terramoto de 1755, causou danos que levaram a novas obras de recuperação. Trata-se duma fortaleza que bem se vê estar muito arruinada e em péssimo estado de conservação. Porém, já passam das 19.00H e eu sou o seu único morador, com excepção dum casalito de jipe que entretanto também por ali apareceu. Daqui se avista o rio Guadiana, de águas barrentas e paradas, pois o enchimento da barragem de Alqueva chega ali e, do outro lado, uns campos cultivados e verdes, é Espanha. Olivença também se avista no horizonte. É praticamente noite e retomo a EN373 na direcção de Elvas, onde não paro, sigo ao outro lado da fronteira, atesto e regresso pelas 20.00H, agora numa viagem relâmpago pela A6 até Estremoz. Aqui torno a equipar-me com os forros, para depois prosseguir pela IP2 na direcção de Portalegre e depois Castelo Branco, onde faço um curto trajecto da A23, para finalmente sair pela IC8 ( zona de Vila Velha de Ródão/Proença-a-Nova ) até Ansião, algumas horas depois, para depois, numa noite fria e escura, atravessar a Serra do Sicó até Soure. De Badajoz até aqui fiz 300Kms, onde cheguei perto da meia noite.
E foi assim, mais uma excelente rota, pelo maravilhoso e histórico Alentejo, aos comandos da minha Honda CBF 1000.
Alcança quem não cansa !

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Por Penamacor, Sortelha, Sabugal e Alfaiates ( 28/09/2007)













POR PENAMACOR, SORTELHA, SABUGAL E ALFAIATES, DIA 28/09/2007

1.Há 700 anos, o rio Côa servia de fronteira natural entre os reinos ibéricos. Mas com o tratado de Alcanices, D. Dinis avançou a fronteira além Côa, cedendo como contrapartida a Castela algumas Praças Fortes a sul.
Só em teoria conhecia parte dessa região pelo que, apostado em conhecer o meu país, há meses que alimentava a ideia de fazer por lá uma passeata, sistematicamente adiada, no meu cavalo CBF1000.Na pretérita semana o tempo correu de feição, solarengo e de temperaturas amenas, pelo que o fim-de-semana se mostrava apropriado também. Eis senão quando verifico pelo http://www.meteo.pt/, uma previsão intolerável de chuva para sábado e domingo. Mais uma vez, era o desmoronar do projecto. Porém, chegado o sexta-feira de manha, dia 28 do mês de Setembro, deste ano da graça de 2007, perante um dia de sol radioso logo pela manhã, cogitei deixar o serviço e pôr-me a caminho, porque é triste na semana laboral fazer bom tempo e depois ao fim de semana vem o mau. De quem é a culpa não me perguntem. Assim fiz, quebrei a rotina, equipei-me, passei por casa dum amigo a quem entretanto telefonara para o levar de pendura ( quando se trata de passeio e fotografia aproveita e ás vezes vem), tendo partido na direcção de Pombal e, pelo IC8 até à A23, saindo depois na saída norte de Castelo Branco que liga á EN233, rumo a Penamacor, Sortelha, Sabugal e Alfaiates.


2. PENAMACOR – CAPITAL DO LINCE

A Vila de Penamacor é sede de concelho e de freguesia, pertence ao distrito de Castelo Branco. O concelho situa-se na Beira Baixa e é constituído por 12 freguesias. A norte faz limite com o concelho do Sabugal, a sul com a Idanha-a-Nova, a oeste com o Fundão e a leste faz fronteira com a Espanha.
As origens de Penamacor estão envoltas na bruma dos tempos, pouco se conhecendo de seguro a seu respeito. Afirma-se que esta vila foi pátria do rei Wamba, um rei dos Godos que governou a península desde 672 até 682. D. Sancho I, conquistou-a aos Mouros e reconstruiu-a. Deu-lhe foral em 1189 e entregou-a aos Templários na figura do seu mestre D. Gualdim Pais, que a fortificou. Funda o seu castelo ficando a ser peça importante na defesa desta região, pelos reinados de D. Dinis, D. Fernando e D. João I, que foram fazendo acrescentos ao castelo, para atingir na guerra da restauração uma importância relevante e estratégica sobre a fronteira.

Atingida por um raio em 1739, fez saltar a torre de menagem que hoje se chama de vigia por via de funcionar como paiol de pólvora.

Chegámos a Penamacor à volta das 14.00Horas e sem almoço porque não haveria sequer tempo para uma coisa facilmente prescindível, com algumas prévias e curtas paragens, para apreciar as paisagens e tirar umas fotos.
É surpreendente como a região denota logo não possuir aquela agitação própria dos lugares frequentados por multidões e ambientes sofisticados. Impera a calma, o silêncio, o longínquo horizonte, monumentos e casas graníticos e os odores da Natureza selvagem. Penamacor será aquela terra de quem busca paz e sossego, terra genuína e autêntica de gentes beirãs, parece ficar longe de tudo no meio de nenhures.
Começamos por subir à zona histórica onde existe um miradouro. Estaciono a mota numa rua de casas graníticas e tradicionais, para de seguida ir ao miradouro, onde se alcança uma vista impar ao seu redor, os telhados e ruelas da vila, as muralhas do castelo, a torre de menagem que hoje se chama de vigia, isolada sobre grandes rochas de granito, igrejas, pelourinho e o longínquo horizonte, sulcado por aprazíveis vales e ribeiras, bem como mais a norte a Serra da Malcata e para o sul Monsanto.
Após iniciamos uma breve incursão pedestre pelas ruas históricas até à Torre (onde se alcança uma vista esplêndida sobre a região), poço de el-rei, muralhas, o pelourinho junto duma porta de entrada para a antiga vila.
No final descemos de moto e percorremos algumas ruas da vila, evidenciando-se aquela calma reinante, com alguns a lançarem os seus olhares, pois ali somos estranhos. O estômago teima em dar horas, mas não há tempo a perder!
Atravessámos a vila e saímos no acesso norte para prosseguir pela EN233 em direcção ao Sabugal, tendo avistado as placas indicativas da Reserva Natural da Malcata (uma das serras mais bonitas de Portugal no estado verde mais puro), santuário do Lince Ibérico, mas não visitámos para não encurtar o tempo sobrante (ficará para outra altura, fica o reconhecimento deste belo local). Placas postadas á entrada afirmam ser Penamacor a capital do Lince.
Depois de passar por Meimoa e Vale da Sra. Da Póvoa, chega-se a um cruzamento onde à esquerda virámos para a N18-3, com destino a Sortelha.


3. SORTELHA: ALDEIA MUSEU DE PORTUGAL

Sortelha fica situada numa região de terrenos graníticos e relevos acidentados, distando 14 km do Sabugal, num território de passagem entre a denominada meseta ibérica e a depressão da Cova da Beira.
Sortelha é uma aldeia de granito tipicamente medieval, fechada por muralhas e vigiada por um castelo, situado no extremo sudeste da povoação, no ponto mais elevado, completamente assente sobre um pináculo rochoso e granítico.
Ali chegados os panorama é deslumbrante, é o fascínio do regresso ao passado. Iniciámos a visita pedestre pelas ruas da aldeia até ao castelo, muralhas e pelourinho. Do seu património destacam-se ainda diversas igrejas e capelas. A fome aperta e procuro saciar-me numas figueiras que cresceram entre rochas e paredes da aldeia. Ninguém me viu, mas se visse, tinha uma boa defesa: estado de necessidade desculpaste. Ou talvez não, pois o prato típico da região é a caldeirada de cabrito e o queijo. Outros sabores que se podiam descobrir eram os enchidos, a perdiz, o coelho à caçador, a sopa do lavrador, o doce de castanhas, o doce de abóbora, as papas de milho, e o pão de lho. Tudo ideias … mas não havia tempo nem eram horas para isso!
No final umas senhoras idosas, sentadas num banco de pedra, com as suas mãos calejadas e rugosas, encontravam-se aplicadas a fazer cestos de gracejo (gracejo é uma planta parecida com junco, que uma vez seca dela se fazem tranças para cestos, cozidos com uma agulha e linha), tendo proposto a compra, ao que lá anuímos...
O meu amigo ofereceu-me uma das sandes que levara à pressa e ofereceu-me uma (eram mais de 5 da tarde). Lá aceitei e quando me preparava para tão faustoso lanche, sentado naquele banco à entrada, logo fiquei rodeado de gatos, que miavam intensamente, famintos imploravam-me por um naco de pão. … Para não ter problemas de consciência (;-)) logo o parti e distribui pelos pobres bichos, ficando eu a miar com um “ rato no estômago”. Dito de outro modo, os gatos comeram o pão e eu o rato!
SORTELHA É UM DESTINO OBRIGATÓRIO PARA QUALQUER MOTOTURISTA.

4. SABUGAL

Prosseguimos viagem agora por uma estrada que dá directamente ao Sabugal, onde chegámos já com o sol quase a pôr-se no horizonte.
O Sabugal é cidade ( desde 2004) e sede de concelho, pertencente ao Distrito da Guarda, região Centro e subregião da Beira Interior Norte. Fica em Terras de RIBA- COA, assim como Pinhel, Almeida, Meda e Figueira de Castelo Rodrigo, zona de charneira entre a meseta ibérica e a Cova da Beira. Esta região tem touradas, diferentes das que se realizam pelo país fora, as célebres Capeias Arraianas.

Situa-se e em local sobranceiro ao Rio Côa tendo pertencido ao reino de Leão. Em 1175, pertencia ao concelho de Ciudad Rodrigo mas em 1190, D. Afonso IX de Leão funda o concelho do Sabugal e teria mandado edificar o castelo. No reinado de D. Dinis, passou a integrar definitivamente o território português, após a sua conquista ao reino de Leão e ter sido assegurada a sua pertença a Portugal, pelo tratado de Alcanices ( 1296).
O castelo é imponente e de grande beleza e bem conservado (parece é que, como aliás do de Penamacor, serviu no passado para as gentes retirarem pedra para as suas habitações ).
Segundo a tradição, terá sido junto a este castelo que se deu o milagre das rosas, quando a Rainha Santa Isabel, que distribuía esmolas, converteu as moedas em rosas, enganando o rei D. Dinis.
Arrancámos não sem dar uma breve ronda pelas ruas da cidade, para, com na noite a adivinhar-se, ainda passarmos por Alfaiates, já perto da fronteira.

5. ALFAIATES

Seguimos pela EN233-3 para Alfaiates. Esta aldeia situa-se em local planáltico, delimitado por terreiro e com construções.
Teve provável origem no séc. XIII com concessão de Carta de Foros e Costumes por Afonso X de Leão e então designado por Castillo de la Luna. Em 1297 passou a integrar o território português na sequência do Tratado de Alcañices.
Possui um castelo, rodeado por uma dupla cintura de muralhas, parcialmente ruídas e encerrado ao público, pelos vistos por haver risco da queda de pedras, conforme me relatou uma senhora de sotaque francês que assomou á porta. Após algumas fotos, mais uma ronda pelas ruelas de casas graníticas para abalar e dar por concluído o projecto.
Agora, enfrentávamos um dilema: regressar pelo mesmo caminho ou inovar seguindo até Vilar Formoso, ali já bem perto.

6. VILAR FORMOSO

Antevendo uma chegada mais rápida pela A25 ( ex-IP5) e por outra boa razão que ao adiante menciono, rumei até Vilar Formoso, pela N332, com o sol a pôr-se horizonte e pelo crepúsculo, percorrendo zona de planície, enquanto apreciava, como podia, a paisagem circundante, de perder de vista, vendo-se ao longe no horizonte, do lado espanhol, a cortá-lo, uma montanha, formando um quadro de invulgar beleza paisagística. Chegado a Vilar Formoso, tratei num ápice de passar a fronteira para atestar do lado de lá, ao preço de 1,01€/litro a gasolina 95 (enchi o depósito com 15€). Além disso, as bombas da cá pareceram-me encerradas umas, outras, com funcionários a ler o jornal …
E a fome? Quase que me esquecia que só tinha ingerido uns figos. Ah, e um rato. Voltas e mais voltas, entrei num restaurante apinhado de tujas, logo á saída da fronteira, do lado direito. O prato típico era as bifanas e “superlotes”, às dezenas. E foi assim que enganei a fome, tudo acamado por um café para despertar, quando tinha ainda 250Kms até casa.
Foi depois aquela viagem rápida, pela A24 (com um corte policial na zona das bombas da BP, para controle, ao que me pareceu, da entrada de estrangeiros, pois sendo fim de semana há muito movimento), parar para vestir umas roupas sobressalentes para enfrentar o frio já rigoroso e rumar até Viseu, para depois cortar pelo IP3 até Coimbra.
A viagem correu às mil maravilhas, embora o passeio fosse um pouco rápido e justificasse talvez aí uns dois dias para visitar tudo com calma, incluindo a Serra da Malcata que ficou por descobrir.
Eis como no espaço de 12 horas percorri uma zona do país, até então e para mim, desconhecida. Ninguém diga que as CBF'S não concorrem para a promoção cultural dos seus utilizadores …
Altamente recomendado!
Boas curvas e aquele abraço

®Virco

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Por Penacova, Buçaco e Luso ( 8/09/2007)















1.Hesitei até à ultima da hora. Tinha previsto ir à concentração de Sanxenxo, organizada pela moto clube local, sendo um óptimo pretexto para conhecer aquela região da costa Galega, que vai desde A Guarda, passando por Baiona, Vigo e toda a região das Rías Baixas, Cangas, O Grove, as ilhas de La Toja e de Arousa, Cambados, Vilagarcía, Noia, Muros, terminando no Cabo Fisterra (Cabo Finisterra). Ao longo da última semana tinha acalentado a expectativa, todavia, na contingência desagradável de ter de viajar ‘a solo’ para um local algo longínquo e abrangendo uns dois ou três dias, fez-me hesitar até à manhã de sábado, dia 9 de Setembro. Levantei-me sonolento e bastante cedo, para à última desistir. Paciência, fica para uma próxima. Pelo menos evito a exportação de divisas .

2. Pela manhã resolvi rumar até Coimbra sendo que, acaso num repente mudasse de ideias, era só entrar na A1 e seguir viagem, pois segundo o Viamichelin, a viagem não duraria mais que umas 3 horas. Todavia, acabei por me demorar e, tendo almoçado num restaurante perto de Eiras, resolvi iniciar um passeio mototuristico local, totalmente de improviso, sem planos ou quaisquer preparações.Procurei por uma estrada secundária que me conduzisse para os lados de Penacova e de modo a não ter que voltar ao repisado IC1. E na verdade, não é que descobri uma ?!

2.1.)Moinhos de Gavinhos

E foi assim que numa viagem calma, sem pressas, fui seguindo ao ritmo suave do propulsor da CBF1000, descobrindo diversos lugares, como Logo de Deus, Brasfesmes, Agrêlo, rodando por uma estrada repleta de curvas tão agradáveis de dar, rodeado pela floresta imensa e fresca, até que fui surpreendido com um lugar, Gavinhos seu nome, com um belíssimo conjunto de moinhos de vento que lá no alto á esquerda, coroam o monte, chamados de MOINHOS DE GAVINHOS. Encontram-se em obras de recuperação. Um ganha-pão no passado das gentes, hoje um belo cartaz turístico para a região, pertencendo ao concelho de Penacova, distando a 5Kms da sede do concelho. Vitorino Nemésio, aqui bem perto, na Portela de Oliveira, também tinha e tem o seu moinho. Como nota de curiosidade, fiquem a saber que o concelho de Penacova alberga com o maior património molinológico do país, pois que é o que possui a maior concentração de moinhos em Portugal e o maior número está em Gavinhos. Segui pela estrada estreita e asfáltica até chegar perto dos moinhos, onde sou surpreendido, por um lado, com uma Santa Imaculada gigante, postada no meio dos moinhos e a abençoar as aldeias que ficam no vale, por outro, pela belíssima paisagem envolvente, de onde se avistam outeiros alcantilados, vales profundos, breves planaltos ou rudes penedias. Para norte a Serra do Buçaco.

2.2) Mosteiro de Lorvão

Voltei á estrada principal, a EM535 e segui até voltar para a EM535-1 que segue para um vale estreito que acolhe o Mosteiro de Lorvão, aquele que nos traz à lembrança as encantadoras e mais antigas iluminuras do nosso património artístico. O Mosteiro do Lorvão, funciona actualmente como hospital psiquiátrico. Apenas fiz uma breve paragem, sem bem que o interesse histórico é de tal modo notável que bem justificava uma visita prolongada. Com efeito, a fundação deste mosteiro remonta ao século VI. A partir da reconquista cristã de Coimbra em 878, o Mosteiro de Lorvão desempenhou um importante papel no fomento agrário e repovoamento da região. Os seus abades converteram-se em importante figuras da época e atingiu-se um alto nível cultural, testemunhado pelos livros copiados e iluminados como o livro das Aves (1183) e o Comentário ao Apocalipse (1189). No Lorvão existiu a primeira comunidade feminina da ordem de Cister em Portugal. Quase tudo o que resta hoje em Lorvão, é fruto das reformas dos edifícios operadas nos séculos XVII e XVIII, com destaque especial para a Igreja construída entre 1748 e 1761.

3. Penacova.

"É preciso chegar às aberturas e miradouros para achar a razão de ser da fama de Penacova que é o seu admirável panorama de água, pinho e penedia" (Vitorino Nemésio)
Prossegui viagem pela EM 535, de curva em curva, rumo a Penacova, desembocando na N 110, que vem de Coimbra e bordeja o Rio Mondego. Subo àquela imponente vila, erguida lá no alto. No centro estaciono no jardim, bem sombreado e fresco e sigo para um promontório a que chamam a Pérgola Raúl Lino. Lá em baixo e em frente, avista-se o Rio Mondego, de água límpida, correndo devagar e mansamente, em curvas entre montes escarpados e uma praia fluvial, tudo numa grande tranquilidade que se respira. Muitos locais haveria a visitar, mas restringi a visita a uma rápida investida por algumas ruas da vila, à Igreja Matriz dedicada a Nossa Senhora da Assunção ( segunda metade do século XVI) e a uma outra já à saída, que tem gravada em pedra a era de 1581.

4. Buçaco ou Bussaco

4.1.De Penacova segui rumo à Serra do Buçaco, passando pelo Casal de Santo Amaro, com os seus fornos de cal parda, agora reconstruídos, apenas vistos de relance, seguindo por um caminho florestal pelo Carvalho até me embrenhar bem na pureza da serra, local mágico e como que isolado do resto do mundo. Foi então que percorrendo esta serra pelo seu lado nascente, fui desfrutando das sombras e do ar fresco e puro que emana da enorme e bem conservada mancha florestal de pinheiros, cedros e outras espécies que ali povoam, que realmente me comecei a sentir plenamente bem, depois da vaga de calor da última semana que se fez sentir por todo país, onde dentro de casa era pouco melhor que estar dentro dum forno ! Passei pela estrada que dá acesso ao Museu do Moinho de Vitorino Nemésio, mas não visitei ( sei contudo ser o espólio constituído por objectos de molinologia ). Entrando pela entrada da mata rumei em direcção á Cruz Alta. O panorama daqui é arrebatador. Podemos abarcar toda a paisagem entre a serra da Boa Viagem na Figueira da Foz até á ria de Aveiro. Ao fundo a luz do sol espelha-se nas águas do mar.

4.2 Prossegui com a visita ao obelisco ( monumento comemorativo da batalha do Buçaco e os feitos militares durante as guerras peninsulares) situado fora dos muros da mata e ao Museu Militar, que alberga um valioso espólio de armamento ( canhões, sabres, pistolas etc,), uniformes militares, gravuras e diversas relíquias. De realçar a existência de alguns manequins vestidos com os uniformes militares da época que dão impressão de serem homens vivos. Ao lado do museu fica a capela do Encarnadouro que serviu de hospital de sangue ao exército anglo-luso durante a batalha.O Museu deve ser um ponto obrigatório de visita para que rume por estas paragens. A entrada custa a módica quantia de 1€.Relembremos que a batalha do Buçaco foi travada há 197 anos, no dia 27 de Setembro de 1810.

4.3. Prossigo na visita, agora na direcção do ex libris, o Palácio do Buçaco e da sumptuosa mata envolvente , pagando à entrada com 1€ ( para motas ).Sabe-se que em 1094 o local era já posse do bispo de Coimbra, que em 1628 a vendeu à ordem dos Carmelitas Descalços. O convento, ermidas, muros e caminhos foram por eles construídos, tendo também plantado e tratado as árvores da mata. Em 1834 a mata passou a propriedade do Estado, tendo sido então introduzidas muitas espécies novas. No século XIX foi construído o notável "Palace", palacete neo-manuelino, com claras inspirações no Claustro dos Jerónimos, na Torre de Belém e no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, de grande feito e impacto paisagístico, arquitectónico, escultórico e grandiosa representatividade cultural e artística, destinado a pavilhão de caça real, mas mais tarde transformado num Hotel ( Hotel Palace ).Como nota de curiosidade, temos a oliveira onde o Duque de Wellington ( comandante das tropas anglo-lusas )amarrou o seu cavalo, perto do convento revestido a cortiça onde pernoitou. A mata é um local paradisíaco, onde abundam árvores idosas e de porte gigantesco, um bosque espesso de cedros, abetos, sequóias, tílias, ulmeiros, faias, redoendros, fetos gigantes, acácias e freixos, provenientes da América, da Austrália, dos Himalais ou de tantos outros locais do mundo, plantadas e cuidadas por gerações de monges que viveram em clausura e contemplação por mais de 200 anos. Depois da contemplação do Palácio e dos belíssimos e românticos jardins envolventes, aproveitei para fazer um passeio pedestre pelo interior da floresta, onde também se podem ver fontes, ermidas, os passos da Via Sacra, Portas, cruzeiros etc, tudo numa atmosfera de absoluta tranquilidade, pois este local é único em toda a Europa e não é por acaso que os estrangeiros ali aterram ás pabeias. Era tarde e tive que acelerar a visita, pois o sol ameaçava pôr-se no horizonte. Prazeres sublimes, num resto de tarde de Domingo aqui vivido.

5. Luso

Após, segui na direcção da vila do Luso, tão conhecida pela pureza das suas águas termais e situada na encosta poente da Serra do Buçaco, rodando pela estrada que vem de Mortágua. Uma breve paragem na avenida principal, de jardins e lojas de recordações. Ao lado a fonte de S. João, ou das Onze Bicas, onde há uma capela dedicada a S. João Evangelista cuja edificação remonta ao século XVIII. Breve passeio pelas aprazíveis ruas, onde ponde pude admirar a arquitectura de algumas das suas casas, solares e hotéis, a fazer lembrar Sintra. Aproveitei a encher a garrafa que trazia na top case com água fresca nas bicas da Fonte de S. João. As pessoas amontoam-se ali em bicha para levar uns quantos garrafões, certamente convencidos que se trata da verdadeira água do Luso. É quase noite, rumei na direcção da Mealhada, para voltar a Coimbra pelo IC1.Enfim, mais um belo e imprevisto passeio moto turístico, na companhia da minha Honda CBF1000 que, pela sua cor verde, cedo se integrou harmoniosamente com as cores dominantes da Serra do Buçaco.
Agora atenção, esta volta foi "ao contrário", pois habitualmente começa-se no Luso, Bussaco e só depois Penacova.

E não esquecer umbom almoço num daqueles restaurantes da Mealhada, apenas distante 5-6 Kms, onde se degusta o reginalíssimo leitão assado !

Mais fotos in http://picasaweb.google.com/virko100

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

De Bragança a Almeida (24/06/2007)


Com o cansaço acumulado eu e o meu primo Paulo, vindos do Encontro Ibérico CBF no Lago de Sanabria, Zamora (Espanha), decidimos pernoitar em Bragança ( Hotel Ibis ( 35€) que dispõe de parque subterrâneo +3€) , enquanto o resto do grupo seguiu pelo IP4 em direcção a Lamego. Após o banho, passeio pelas ruas de bragantinas, jantar em resturante da cidade e visita aos bares. A deita, como calcularão, foi tardia. Nem por isso dormimos grande coisa ( o sistema nervoso detecta um local estranho e antes da habituação não se consegue dormir adequadamente ).Na manhã seguinte, antes das 8.00H deixámos o hotel e após pequeno almoço num café na zona central da cidade,rumámos para uma visita à zona histórica ( CASTELO E ZONA CIRCUNDANTE ). O Castelo, encantado na sua beleza e história, tem lendas de amores e de princesas prisioneiras. Tem histórias de guerras e a histórias dos séculos que se inicia no neolítico ! Brigância, o castro que lhe deu origem foi construído em local de boa defesa.Ainda não tinham tocado as nove badaladas, já as motas se encontravam frente à fortaleza de antanho. Esperámos. Os primeiros a chegar foram precisamente os funcionários. Entrámos para a visita, em cujo interior se vê um belíssimo museu militar, que deve ser ponto obrigatório de visita para qualquer turista que rume por estejas paragens. No nível do r/c há uma exposição de peças de artilharia da II Guerra Mundial e na Torre de Menagem, com vários pisos, existe uma exposição de armas ligeiras ( desde espadas, sabres, pistolas, revolveres, metralhadoras, carabinas etc.), de instrumentos do neolítico até à AK-47 (Kalachnikov) , munições, uniformes, quadros, etc. Absolutamente imperdível e tudo muito belo ( em boa hora resolvemos ficar ).
Eram para aí umas 11.00H quando partimos então rumo a Miranda do Douro, com passagem por Vimioso. Até lá foi de admirar a imensa e imponente paisagem do Nordeste Transmontano, de terras férteis e cerejeiras.Miranda do Douro fica na margem direita do rio Douro. (Beni-mos a ber... aspramos por bós an Miranda del Douro! ) Por aqui se fala o famoso dialecto mirandês.Estacionámos as motas numa sombra, ao lado do Castelo. Depois, começamos o nosso passeio, sob um sol tórrido e próximo da hora do almoço com a barriga a dar horas. Da antiga fortificação, que cercava o núcleo antigo da cidade, pouco mais resta para ver que as suas ruínas. Do castelo, porém, desfruta-se duma excelente vista sobre o Douro. Seguidamente, percorremos o centro histórico, com a sua calçada em pedra. Aí regalámos as vistas com um interessante conjunto arquitectónico do século XV, formado por casas de granito lavrado com relevos florais. Mas o ex libris da cidade é, naturalmente, a antiga Sé. A atribuição do título de cidade a Miranda remonta a 1545, no reinado de D. João III, altura em que se tornou também sede episcopal. Por trás da igreja, vimos as ruínas do Paço Episcopal.Havia missa na antiga Sé e, por isso, não entrámos, para apreciar o famoso retábulo da capela-mor com esculturas em madeira e o órgão, bem como o curioso Menino Jesus da Cartolinha, peça única da iconografia cristã. O Museu da Terra de Miranda, instalado num edifício do século XVII, que oferece um olhar sobre a etnografia mirandesa e sobre a casa tradicional, o artesanato e o vestuário, também ficou de fora. Almoçámos num restaurante na zona histórica que, infelizmente, foi a pior escolha possível e não se recomenda ( há muito por escolher mas depois é que se pervebe a comida está congelada e reaquecem )Após o mau repasto, seguimos a nossa longa rota, atravessando o país do nordeste até Almeida, passando por Mogadouro, Freixo-de-Espada- à -Cinta, Barca D’Alva, Figueira do Castelo Rodrigo e Almeida, tudo numa virada e numa só tarde. O ponto digno de toda esta rota e que deve ser enaltecido é sem dúvida, a paisagem esplêndida propiciada por toda a zona do PARQUE NATURAL DO DOURO INTERNACIONAL, sendo as estradas de asfalto de bom piso, com imensas curvas tão agradáveis de fazer … ( Nota informativa: o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) foi criado através do Decreto Regulamentar 8/98 de 11 de Maio com o objectivo de conservar o património natural promovendo ao mesmo tempo a melhoria da qualidade de vida das populações locais em harmonia com a conservação da natureza.O PNDI, ocupa uma área de 85 150 há e abrange o troço fronteiriço do Rio Douro (numa extensão de cerca de 1222 Km), incluindo o seu vale e superfícies planálticas confinantes, e prolonga-se para sul através do vale do Rio Águeda. Está localizado nas regiões de Trás-os-Montes e Alto-Douro e da Beira Alta, abrangendo os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de Espada à Cinta, no distrito de Bragança, e Figueira de Castelo Rodrigo no distrito da Guarda. )Sendo tarde quando chegámos a Figueira do Castelo Rodrigo, fizemos apenas uma breve paragem no centro, passámos por algumas ruas e abastecemos as motas para ainda chegar de dia a Almeida. A surpresa é que a estrada tem um traçado recto a condizer !Em Almeida entrámos na fortaleza ( parte histórica ). Na primeira paragem, acusávamos um cansaço enorme e, foi então que o meu primo se deitou em cima duma pedra, para logo adormecer. Agora já nem estranhou a cama !!! Sobreviveu, mas ainda estávamos a cerca de 200 Kms de casa e o objectivo era apanhar a A25 que não passa muito longe.Bom lá acabámos por visitar a Fortaleza, o Picadeiro Real e passeámos a pé pelas ruas. Tudo tradicional, histórico e bem conservado. Havia uma feira do bacalhau e aproveitámos para reconfortar o estômago, antes de nos fazermos á estrada.O vento apertava e resfriava o fim do dia, tivemos que vestir o equipamento de inverno, que felizmente também tínhamos levado para Sanabria.Bom já a anoitecer, fizemos então a viagem relâmpago agora pela A25 ( antigo IP5) até Viseu e, daqui, até Coimbra, pelo IP3.Correu tudo bem, muito cansaço à mistura é certo, mas mereceu a pena. Foi um passeio moto turístico grandioso ( ***** estrelas ), conseguimos num só dia percorrer metade do país por uma zona interior/fronteiriça muito bela e digna de ser vista.Altamente recomendado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

De S. Jacinto (Aveiro) a Esmoriz (12-08-2007)


1.É necessário saber que além de trabalho a vida deve ser vivida noutras vertentes. Refiro-me ao acto de viajar, de moto particularmente, que permite auscultar de perto a vida dos lugares, as suas gentes, os costumes, os monumentos, as paisagens e saborear a gastronomia, tudo isso potenciando o prazer que lhe está inerente. Viajar enriquece o espírito ! A vida é muito bem vivida se todos os momentos forem importantes. E ás vezes nem é preciso viajar para muito longe ! Basta percorrer algum dos muitos recantos deste país tantas vezes ignorados, mas de rara beleza e interesse, para quantas vezes nos assolar á memória um pensamento de autocensura: como é possível, aqui tão perto e nunca lá fui?!

2.Estou eu para aqui com estas tagarelices, afinal para relatar um passeio que me propus fazer no passado domingo, dia 12 de Agosto de 2007, na minha querida Honda CBF1000 e que consistia em “ desbravar as terras “ que nunca antes percorri, apesar de tantas vezes ter estado tão perto e que vão desde S. Jacinto, povoação situada imediatamente a norte do Forte da Barra de Aveiro, mas dela separada pela denominada Ria que se estende para norte até Ovar. Comecei esta minha modesta epopeia precisamente no Forte da Barra ( que fica na freguesia da Gafanha da Nazaré, Concelho de Ílhavo, Distrito de Aveiro, mais concretamente onde é a capitania do porto ), fazendo uma breve paragem junto do Navio Museu Santo André ( um barco bacalhoeiro comprado pela Câmara de Ílhavo, fundeado na barra, acessível a visitas diárias excepto à segunda feira ), para de seguida fazer a travessia no “Ferry Boat “ Cale de Aveiro a operar desde há pouco tempo no local, que veio quebrar significativamente o isolamento daquela localidade outrora piscatória, encurtando distâncias que por terra eram de cerca de 60 Kms em relação à sede do concelho. Ao que parece, 51 anos antes que foi feito um pedido nesse sentido ao Ministério das Obras Públicas, pelo então governador civil de Aveiro, Valle Guimarães, ainda em pleno Estado Novo ! Mas enfim…

3. Tive a sorte de chegar no exacto momento que o Ferry estava para partir. As pessoas subiam e os carros, em bicha, iam sendo carregados. Perguntei a um funcionário como era, disse-me que de mota não precisava de estar na bicha e para dirigir-me ao colega que estava mais à frente a vender os tickets aos automobilistas á entrada do barco, o que fiz, tendo este dado ordem para avançar de imediato que depois iria falar comigo, o que aconteceu, vindo a pagar-lhe o bilhete durante a viajem ( só de ida: 2€ para a mota + 1,20€ cá do rapaz, não residente ). A mota viajou no descanso central, sem quaisquer amarras, em pleno corredor central formado pelas duas filas de automóveis que ocupam a sua largura. O barco é tão pesado que “não torce nem amola” durante a viagem, que dura no máximo uns 10 minutos, posto que as águas estivessem até agitadas pelas correntes da maré. Durante a curta viagem sente-se um raro prazer que é o de viajar de barco, como se fôssemos para terras longínquas … no rosto dos passageiros transparece um sorriso de felicidade e contentamento. Alguns saem dos carros para apreciar no exterior.

4. Saí do ferry a cavalo na mota a trabalhar para o cais de atracagem. Num ápice estava na rua marginal de S. Jacinto. Por ali havia muita gente a passear tranquilamente na marginal da ria, onde se respirava uma brisa marítima muito agradável, com muitos pescadores a pescar, com as suas canas de pesca em riste e as chumbadas fundeadas na ria. O quê não me perguntem, pois só sei que de entre dezenas ou centenas de canas de pesca, para lá dos limos que às vezes vêm agarrados e que as torcem pressagiando alguma boa pescaria não vi um só peixe pendurado nos anzóis. Mas enfim, a pesca é para pacientes. Para sul, ao longe, para lá da imensidão das águas esverdeadas da ria, avistam-se os edifícios da cidade de Aveiro e o Porto Comercial. Respira-se um ar fresco e a tranquilidade é assombrosa. Os cafés marginais estão apinhados de gente. Na pequena marina local encontravam-se fundeados vários barcos tão peculiares da região, os barcos moliceiros, pintados na proa e popa, com desenhos característicos de cores garridas, com figuras contornadas a preto, que são uma verdadeira arte popular, que se reflectem na água, transmitindo-lhe tons coloridos e ondulantes. A temática destes desenhos é, umas vezes, humorística; outras, crítica social, recorda factos históricos ou apresenta cenas de devoção religiosa. S. Jacinto é hoje vila e sede de freguesia, contando com uma base militar de paraquedistas da tutela do Exército com a denominação de Área Militar de S. Jacinto. A norte do lugar ficam localizadas as Dunas de S. Jacinto, tendo o oceano Atlântico a poente e um dos braços da Ria de Aveiro a nascente.

5. A indispensável lenda.Nos séculos mais recuados da História, o zona era conhecido por Areias, por ser desolada e imprópria para ser habitada, nunca foi alvo de forte movimento povoador, sabendo-se que no século XVIII apenas contava com dois moradores permanentes. Os que a demandavam eram essencialmente os pescadores. Integrada até meados do século XIX na jurisdição religiosa do pároco de Ovar, a freguesia viu abrirem-se novos horizontes em 1856 ao ver transferia a essa jurisdição, por ordem do bispo do Porto, para a paróquia da freguesia da Vera Cruz, na cidade de Aveiro. A proximidade á nova sede e a actividade e interesse então trouxeram novos ventos para S.Jacinto. Assim em 1888, realizou-se a plantação da sua hoje protegida mata de S.Jacinto, que permitiu fixar as dunas e o aproveitamento de terrenos incultos, mais alagados e húmidos.Porém isso não quer dizer que o lugar das Areias fosse desconhecido. Toda a gente das redondezas estava a par da sua fama. Porquê ?Por um único motivo, a existência da ermida dedicada à Senhora das Areias. Dentro dela se encontrava uma imagem milagrosa e de muita romagem: A Nossa Senhora da Conceição. Uma lenda esteve na base da construção da ermida, que segundo documentos, já existiria no século XV. Conta essa lenda que num certo dia entrou pela barra dentro um casco de navio que encalhou na costa das Areias, no interior do qual se descobriu uma pequena imagem da Nossa Senhora. Tal foi tido como motivo para a construção da ermida nesse local, a mando, segundo a tradição, do Cabido do Porto , na época o senhorio da região a quem cabia a dízima do pescado. Posteriormente, ao lado terá sido erguido um cruzeiro em 1584, que servia de ancoradouro de franquia das naus que demandavam o canal. Actualmente a ermida é a igreja matriz da freguesia.

6. Resolvi arrancar para norte, não sem antes passar pela Praia de S. Jacinto, de bandeira azul, areias douradas, claras e limpas. As águas do mar também parecem muito límpidas e puras. Há hora que ali passei, pelo número de banhistas, fica-se com a impressão de tratar-se duma praia pouco frequentada, logo recomendada a quem não gosta de grandes confusões. Bom, prossegui na minha rota pela N327, passando pela Torreira, povoação elevada a vila desde 1997. A Torreira faz parte do cordão litoral que se estende desde S.Jacinto até ao Furadouro(Ovar), numa extensão de cerca de 25Km, situada entre o Mar e a Ria, a 10Km por estrada da sede de concelho, a Murtosa. Apesar de todo o progresso tecnológico aqui se teima em praticar uma das artes mais antigas e típicas da região: a arte da xávega. A N327 margina a Ria, sendo uma estrada de bom piso asfáltico, totalmente plana, propiciando o desfrute duma singular paisagem, á esquerda o pinhal, à direita a ria. Há que abrir o capacete para respirar o ar fresco e o vislumbre da paisagem. À direita da N327, na Torreira, em plena ria somos surpreendidos uma invulgar marina: só barcos moliceiros, de cores múltiplas e garridas. É irresistível e a paragem é obrigatória. Qualquer fotógrafo encontra ali um bom motivo. O curioso é que na proa destes barcos, há alguns que ostentam a imagem de N. Senhora. Após fotos, rumei na direcção do centro, tendo apreciado a praia de extenso areal, limpo e dourado, mas muito frequentada. Estacionei a mota e fiz uma visita a pé pelas calçadas marginais e central. Uma enchente de gente, naturalmente, por ali saboreava o fim de tarde, de férias ou de domingo. Após a ronda, prossegui pela EN327 até ao Furadouro, Ovar, passando pelos lugares de Quintas do Sul, Quintas do Norte e Torrão do Lameiro. No Furadouro, fiz um passeio pela grande calçada marginal. Tudo belo e muito bem arranjado e a praia, imensa e limpa. Grande densidade de visitantes, também. O relógio já marcava 19.20H, ainda havia sol no horizonte a recomendar o regresso a casa, bastando atravessar Ovar. Mas dali até Esmoriz não seria longe e também porque só em teoria conhecia esta terra, decidi continuar para norte, passando ainda pela praia da Maceda. Finalmente cheguei a Esmoriz e, sem me aperceber, havia apanhado uma rua que deu exactamente para um bairro, aparentemente modesto e pobre, sendo olhado de soslaio por alguns indivíduos, de pele requeimada pelo sol e com um aspecto pouco simpático. Bem, lá dei com a rua que dava para o centro e aí sim, uma zona bem mais rica, com edifícios novos e modernos. Procurei pela marginal, onde estacionei, para tirar mais umas fotos, desta e da praia, também esta de areal imenso, dourado e limpo, com Espinho no horizonte a vislumbrar-se lá mais para norte. Não me vou alongar mais, senão isto nunca mais acaba, mas dei esta rota terminada em Esmoriz, tendo regressado, pela EN109 até Aveiro e daqui, pela A1 onde saí no nó de Condeixa-a-Nova. Foi assim mais uma rota aos comandos da CBF a descobrir este Portugal, por uma região tão bela, afinal aqui tão perto … e tão longe !

Passeio pela Batalha, S. Jorge e Aljubarrota, 622 anos depois.


1.Na passada terça-feira, dia 14/08/2007, da parte da tarde, parti de moto para terras que dispensam de apresentações e situadas no Distrito de Leiria. Não é possível compreender o significado dum passeio desta índole sem ter presente a história. Sem uma bagagem minimamente apetrechada não é possível apreciar e valorizar o significado dessa batalha e dos monumentos que ainda hoje pontificam no local. Direi mais, sem conhecimentos prévios da história, os passeios passam a ser “toscos”, sem significado, limitando o observador “a ver pedras e paredes “. Por isso o nosso imenso prazer de viajar de moto de mão dadas com a história.

2. Naquele dia celebrava-se o 622º aniversário da Batalha de Aljubarrota. Como todos sabem, a mesma decorreu no final da tarde de 14 de Agosto de 1385, entre tropas portuguesas comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira e o exército castelhano de D. Juan I de Castela. A batalha deu-se no campo de S. Jorge, nas imediações da vila de Aljubarrota. O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos e o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I como rei de Portugal, o primeiro da dinastia de Avis.

3. Que crise foi essa de 1383-1385 ?Como todos sabem também, essencialmente um grave problema de sucessão dinástica, suscitada pela morte do rei D. Fernando I ( 9º Rei de Portugal ), que no ano de 1383 estava a morrer...

a)D. Fernando sucedera no trono ao rei D. Pedro I, seu pai, ( D. Pedro era filho de Afonso IV ). D. Pedro foi o rei apaixonado D. Inês de Castro, a bela aia galega da sua mulher Constança. Inês acabaria assassinada por ordens do rei em 1355, mas isso não trouxe Pedro de volta à influência paterna e nunca lhe perdoou o assassinato de Inês. Uma vez coroado rei, em 1357, Pedro anunciou o casamento com Inês, realizado em segredo antes da sua morte e a sua intenção de a ver lembrada como Rainha de Portugal. Dois dos assassinos de Inês foram capturados e executados (Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves) com uma brutalidade tal (a um foi arrancado o coração pelo peito, e a outro pelas costas), que lhe valeram os epítetos o Cruel, Cru ou Vingativo. Conta também a tradição que Pedro teria feito desenterrar o corpo da amada, coroando-o como Rainha de Portugal, e obrigando os nobres a procederem à cerimónia do beija-mão real ao cadáver, sob pena de morte. De seguida, ordenou a execução de dois túmulos os quais foram colocados nas naves laterais do mosteiro de Alcobaça para que, no dia do Juízo Final, os eternos amantes, então ressuscitados, de imediato se vejam...D. Pedro I teve três casamentos (incluindo D. Inês ), havendo sete filhos e ainda mais um fruto duma relação amorosa, no pós assassinato de Inês de Castro, com uma tal Teresa Lourenço, jovem lisboeta, filha de um mercador de nome Lourenço Martins. Dessa relação nasceu, em 14 de Agosto de 1356, um jovem a quem foi posto o nome de D. João, que o pai viria a confiar à guarda do avô, a fim de o educar e tornar cavaleiro, tendo-o mais tarde feito Mestre de Avis (não esquecer este pormenor ).Por morte de Pedro sucedeu-lhe o seu filho varão, D. Fernando ( D. Fernando I ) do casamento com a sua mulher ( legítima) a princesa D. Constança de Castela.

b) Mas chegados a 1383 D. Fernando I estava a morrer sem um filho varão que herdasse a coroa, havendo do seu casamento com Leonor Teles de Menezes apenas uma rapariga, Beatriz de Portugal, que havia sobrevivido à infância. O seu casamento era portanto da mais vital importância ao futuro do reino. As várias facções políticas discutiam entre si possíveis maridos, que incluíam príncipes ingleses e franceses. O casamento de D. Beatriz acabou por ser decidido como parte do tratado de paz de Salvaterra de Magos, que terminou a terceira guerra com Castela, em 1383. Pelas disposições deste tratado, o rei João I de Castela (Juan I ), casar-se-ia com D. Beatriz e o filho varão que nascesse desse casamento herdaria o reino de Portugal, se entretanto D. Fernando I morresse sem herdeiros. O casamento foi celebrado em Maio de 1383, mas não era uma solução aceite pela maioria dos portugueses, uma vez que implicava a união dinástica de Portugal e Castela e consequente perda de independência. Muitas personalidades quer da nobreza, quer da classe de mercadores e comerciantes estavam contra esta opção, mas não se encontravam unidos quanto à escolha alternativa. Dois candidatos emergiram, ambos meios irmãos bastardos do rei moribundo D. Fernando: - João, filho do Rei Pedro I de Portugal e Inês de Castro, a viver no momento em Castela;- João, Grão-Mestre de Aviz, o tal filho ilegítimo de Pedro I ( portanto meio irmão de Fernando ), fruto da relação deste com a amante Teresa Lourenço, aia de Inês de Castro, muito popular junto da classe média e aristocracia tradicional;A 22 de Outubro de 1383, Fernando de Portugal morre. De acordo com o contrato de casamento de Beatriz e Juan I de Castela, a regência do reino é entregue a Leonor Teles de Menezes, agora rainha viúva. A partir de então, as hipóteses de resolver o conflito de forma diplomática esgotaram-se e a facção independentista tomou medidas mais drásticas, iniciando a Crise de 1383-1385.Porém iniciaram-se as hostilidades e o primeiro acto foi tomado pela facção do Mestre de Aviz em Dezembro de 1383. D.João, Mestre de Avis e um grupo de conspiradores entram em Lisboa e assassinam o Conde Andeiro, amante e aliado político de Leonor Teles de Menezes, um dos principais orquestradores do casamento de Beatriz com o rei João I de Castela. Com esta iniciativa, D.João, Mestre de Avis torna-se no líder da facção separatista e chama para o seu lado Nuno Álvares Pereira, um líder militar com provas dadas. Juntos tomam as cidades de Lisboa, Beja, Portalegre, Estremoz e Évora. Como resposta, o rei Juan de Castela entra em Portugal e ocupa a estratégica cidade de Santarém, numa tentativa de normalizar a situação e assegurar o trono de sua mulher. A primeira vítima política é Leonor Teles de Menezes, que se provara uma regente pouco enérgica e incapaz de parar as conquistas da facção independentista. Juan I força a sogra a abdicar da regência e exila-a para um convento.

c)A resistência portuguesa e o exército castelhano encontram-se pela primeira vez a 6 de Abril de 1384, na batalha dos Atoleiros. Nuno Álvares Pereira soma mais uma vitória militar para a facção de Aviz, mas o confronto não é decisivo. Juan I de Castela retira para Lisboa e cerca a capital, com o auxílio da sua marinha que bloqueia o porto da cidade e controla o Tejo. O cerco era uma séria ameaça à causa de João de Aviz, uma vez que sem Lisboa, sem o seu comércio e dinheiro dele afluente, pouco podia ser feito contra Castela. Pelo seu lado, Juan I precisava de Lisboa não por razões financeira, mas por motivos de ordem política, uma vez que nem ele nem Beatriz haviam sido coroados e sem esta importante cerimónia, eram apenas pretendentes à coroa.Entre o fim de 1384, princípio de 1385, Nuno Álvares Pereira subjugou a maioria das cidades portuguesas que haviam declarado apoio à princesa Beatriz e ao marido Juan I de Castela. Durante a Páscoa, chegaram a Portugal as tropas inglesas enviadas em resposta ao pedido de ajuda feito por João de Aviz. Apesar de não serem um grande contingente, contavam-se à volta de 600 homens, eram tropas na sua maioria veteranas da Guerra dos Cem Anos, bem treinados nas tácticas de sucesso da infantaria inglesa. Com tudo a jogar a seu favor, João de Aviz organizou uma reunião das Cortes em Coimbra, juntando todas as figuras importantes do reino. É aí que, a 6 de Abril, foi aclamado João I, Rei de Portugal, primeiro da Dinastia de Aviz, num claro acto de guerra contra as pretensões castelhanas. Num dos seus primeiros éditos reais, João I nomeia Nuno Álvares Pereira Condestável ( quer dizer, chefe de todos os exércitos ) de Portugal e protector do reino.

d) Em Castela, Juan I não hesita em responder ao desafio, enviando, pouco depois da aclamação de Coimbra, uma expedição punitiva a Portugal. O resultado é a batalha de Trancoso em Maio, onde as tropas de João I obtêm uma importante vitória. Com esta derrota, o rei de Castela percebe por fim que necessita de um enorme exército para pôr fim àquilo que considera uma rebelião. Na segunda semana de Junho, a maioria do exército de Castela, comandado pelo rei em pessoa, acompanhado por um contingente de cavalaria francesa, entra em Portugal pelo Norte. Desta vez, o poder dos números estava do lado de Castela: Juan I contava com cerca de 30000 homens, para os apenas 6000 à disposição de João I de Portugal. A coluna dirige-se imediatamente para Sul, na direcção de Lisboa e Santarém, as principais cidades do reino.
Entretanto, João I e o Condestável encontravam-se perto de Tomar. João I decide interceptar o inimigo nas imediações de Leiria, perto da vila de Aljubarrota.

e)A 14 de Agosto, o exército castelhano, bastante lento dado o seu enorme contingente, encontra finalmente as tropas portuguesas, reforçadas com o destacamento inglês. O resultado deste encontro será a Batalha de Aljubarrota, travada ao estilo das batalhas de Crecy e Azincourt, onde a táctica usada permitia a pequenos exércitos resistir a grandes contingentes e cargas de cavalaria. O uso de archeiros nos flancos e de armadilhas ( Covas de Lobo e fosso) para impedir a progressão dos cavalos, localizadas em frente à infantaria, constituem os principais elementos. O exército castelhano não foi só derrotado: foi totalmente aniquilado. As perdas da batalha de Aljubarrota foram de tal forma graves que impediram Juan I de Castela de tentar nova invasão nos anos seguintes.Com esta vitória, João I foi reconhecido como rei de Portugal, pondo um fim ao interregno e à anarquia da Crise de 1383-1385. O reconhecimento de Castela chegaria apenas em 1411 com a assinatura do tratado de Ayton-Segovia. A aliança Luso-Inglesa seria renovada em 1386 no Tratado de Windsor e fortalecida com o casamento de João I com Filipa de Lencastre (filha de João de Gaunt). O tratado, ainda em vigor, estabeleceu um pacto de mútua ajuda entre Inglaterra e Portugal..

4. Na Batalha comecei por visitar o Mosteiro... O Convento de Santa Maria da Vitória (mais conhecido como Mosteiro da Batalha) foi mandado edificar por D. João I como agradecimento do auxílio divino e celebração da vitória na Batalha de Aljubarrota. É considerado património mundial pela UNESCO e em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. A sua construção começou em 1387 ou 1388 e estendeu-se até cerca de 1533, mobilizando fortes recursos humanos e materiais.É, de facto, uma obra grandiosa, uma maravilha e duma grande beleza arquitectónica. Nesta altura os turistas acorrem ao local aos milhares. O monumento encontra-se a ser objecto de obras de restauro que limitam seriamente o interesse da visita ( andaimes de ferro com panais a tapar !). O melhor será mesmo aguardar por uns tempos para depois lá voltar quando terminarem. Mesmo assim visitei a Capela Mor e a Capela do Fundador onde se encontram os túmulos de D. João I, D. Filipa de Lencastre e de seus filhos, denominados por Camões de "ínclita geração".Imponente também a enorme estátua de D. Nuno Álvares Pereira em cima do cavalo, este devidamente provido com “tudo” no sítio.

5. Depois de visitar a Batalha, regressei de novo ao IC2 em direcção a Lisboa, a cerca de 2 kms encontra-se São Jorge., onde pretendia visitar o museu militar e a capela. O campo fronteiro ao Museu, encontrava-se em obras e, este, encerrado ao público, estando a decorrer os trabalhos, tudo isto, no preciso dia do aniversário da Batalha… Acho que fica mal e o dia deveria ser respeitado.Fiz então a visita à Capela de S. Jorge. Foi implantada no sítio onde, no dia da batalha, a 14 de Agosto de 1385, D. Nuno havia depositado o seu estandarte. O local escolhido não foi um acaso, pois nas manobras de posicionamento dos exércitos, a hoste comandada pelo Condestável havia encontrado esta "pequena elevação com visibilidade técnica sobre o campo de batalha.

6. Regressando ao IC2 segui para sul até encontrar, logo após São Jorge, uma saída à direita para Aljubarrota ( e Alcobaça), pela EN8.Percorrer cerca de 5 Kms até chegar à Vila de Aljubarrota. Uma vez chegado á placa da localidade, estacionei junto a um largo duma igreja, cujo acesso à rua interior estava vedado. Porquê ? Porque se encontrava a decorrer o evento “Aljubarrota Medieval “. A partir daqui iniciei o percurso pedestre pela vila.

a)A povoação conserva a traça antiga de natureza histórico-medieval, com prédios caracterizados pelo uso de cantarias, colunas, janelas de geometria vária, cor branca nas paredes e volumetria que não ultrapassa o primeiro andar. A vila é rica em motivos arquitectónicos, memórias históricas e pedras ancestrais, que constituem um museu vivo da História portuguesa.Ex-libris de Aljubarrota é o Largo do Pelourinho, constituído pelo pelourinho, torre sineira isolada e casas das Juntas. Mais á frente á esquerda numa Rua, num largo, fica a Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, o mais antigo monumento de Aljubarrota e o de maior relevo histórico, pois aqui rezou D. Nuno Álvares Pereira, antes da batalha.Neste largo fica também a Casa dos Capitães, um belo edifício do século XVIII com janelas aventaladas, cuja reconstrução, constante de uma lápide é de 1779.Situada na Rua Direita fica a Casa dos Carvalhos, edifício do século XVIII, de acordo com a data de 1778 que encima uma das portas.Na praça Brites de Almeida, enquadrada pelo conjunto constituído pela Casa do Celeiro e ruínas da Casa da Padeira, fica a estátua de Brites de Almeida ("a estátua da Padeira"). Na parede da casa do Celeiro, diversos azulejos pintados lembram os oragos e vários motivos de Aljubarrota. O povo de Aljubarrota guarda a sua pá em ferro martelado coevo. Pode ser vista na casa solarenga da família Carreira, descendente dos Capitães de Aljubarrota, na Rua Direita.

b) Neste passeio pedestre pelas ruas, fui então admirando os figurantes que deambulavam por ali, uns pela a pé, outros, sentados juntos de tendas, aposentos, currais etc. etc. Enfermo, malabaristas, músicos, comerciantes, artesãos, lenhadores, petiscos medievais, taverna e muita animação a cargo de muitos figurantes.O que mais me surpreendeu foi a sua atitude, parece que ali se encontram em plena idade média, andam metidos na sua vida e não ligam aos transeuntes, não dialogam, como se nós, fôssemos os observadores ali caídos no tempo para os ver. Andam na sua vida, algures no tempo e na tranquilidade, sem pressas, até porque nem sequer havia relógios. FASCINANTE !O único diálogo que tive, foi numa taverna, dentro dum quintal térreo, revestido de palha, onde havia mesas e bancos, ao lado uma cavalariça e um guarda medieval, sítio em parte enublado pelo fumo que brotava do lume onde se assavam umas viandas. Então entrei e pedi uma “ cevada “, tirada dum barril disfarçado ( a não ser que naquele tempo já tivesse cerveja de barril tirada com gás ) servida num copo de barro fresquinho, tão saborosa…
Assisti também a uma cerimónia de descerramento dum busto em homenagem a Eugénio dos Santos. Fiquei a saber que Eugénio dos Santos nasceu em Aljubarrota, em 1711, e foi o autor do projecto da reconstrução da Baixa Pombalina, em Lisboa, após o terramoto de 1755. A sua obra, o Terreiro do Paço e a Baixa, permanece.
Terminei o passeio, eram para aí umas 20.30H, tendo rumado para norte na direcção do IC2, para rumar direito a casa.
Mais um belo passeio a descobrir Portugal e a sua história, em moto. Deixo aqui o testemunho desta viagem ( fotos ) que com muito prazer venho partilhar com a comunidade virtual em geral e a cbfista muito particularmente.Peço desculpa pelo longo texto, mas não tive tempo para escrever em menos …

Passeio à Serra da Lousã, num sábado soalheiro de Julho de 2007


1.Finalmente parece que chegou o verão com mais um brutal dia de calor a marcar o dia de hoje ( 28-07-2007) por estas bandas, a fazer esquecer o passado recente de chuva atrás de chuva. Logo pela manhã arranquei com um grupo de amigos emigrantes que estão por cá para passar férias para um passeio de BTT. E se o sol ameaçava aquecer, bem o fez e acabámos por enfrentar um calor infernal.


2.De tarde, após a hora de almoço, como que por mero acaso colocou-se a hipótese de ir “ dar-mos uma volta de mota “. E assim foi, pouco passava das 15.00H, debaixo do dito sol arrasador ( uma sesta era mais tentadora ) e lá partimos. Eu na minha Honda CBF 1000 e o meu amigo Ilídio ( que está no Luxemburgo) pediu a mota ao irmão ( uma choper, Honda Shadow 600 , vermelha). Pus-me a congeminar e, para contrariar a tendência não fui para as praias, certamente muito concorridas ou para o lado do mar, preferi ir para a montanha, fugir do bulício do verão e da confusão, à procura do verde, do ar fresco, da calmia paisagística para curar o espírito das mazelas adquiridas pelas contrariedades da semana ( leia-se “stress”). Muito bem e o destino foi nada mais nada menos do que a imponente SERRA DA LOUSÃ.

3.Situada no centro de Portugal, é um dos melhores destinos de Portugal para a prática de muitas modalidades ( BTT, Enduro, Passeios Pedestres, Todo-Terrreno, Parapente, ciclismo, etc.etc.), mas também uma excelência para o moto turismo. Um lugar imperdível para visitar de moto, onde qualquer motard que se preze tem de vir ... A Serra caracteriza-se pela sua magnitude e simplicidade, apresentando-se com a sua rusticidade própria, que caracteriza os espaços naturais, pouco sujeitos a agressões e intervenções humanas. Neste particular, destacam-se as aldeias serranas e os diversos percursos naturais. Viajar de mota por aqui permite o contacto com uma elevada diversidade de paisagens, algumas de cortar a respiração pela sua beleza e magnitude, como pelo contacto com a fauna variada ali existente.Contudo, também nas suas faldas, esta montanha encerra autênticos tesouros paisagísticos e monumentais. É o caso, por exemplo, do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, vale quase encantado, onde junto ao rio que ali corre, se erguem escarpas altivas, encimadas por um complexo religioso de grande beleza, a cujos pés se destacam as piscinas fluviais, cuja outra margem se encontra marcada pela existência de um morro encimado por um castelo medieval, que remonta ao século XI. Mas se a Serra da Lousã, nos proporciona as riquezas naturais mencionadas, chegados ao vale amplo e verdejante, ergue-se uma vila pujante de desenvolvimento, e em que a harmonia entre o novo e o histórico, é característica principal. Destacam-se neste aglomerado habitacional, além dum enorme crescimento urbano com edifícios modernos ( a Lousã tornou-se numa espécie de dormitório de Coimbra, onde a construção é mais barata em relação ao resto do país, servida por uma linha de caminho de ferro que, segundo se diz, é a única lucrativa ), a excelência da arquitectura dos seculos XVIII e XIX, cuja manifestação por excelência, surge corporizada nos vários solares e palácio existentes na parte velha da vila. Destaque especial merece, igualmente, o pelourinho existente nos Paços do Concelho, o qual se encontra, conjuntamente com o castelo, classificado como monumento nacional.

4. Iniciámos esta visita, com uma paragem junto aos Paços do Concelho, para uma breve visita e colheita de fotos junto à Câmara e Jardim Municipal. Após rumamos na direcção do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, onde se situa também o Castelo ( todo edificado em xisto ) e uma praia fluvial. Visita ao Castelo. Após, desce-se numa estrada íngreme até ao fundo, onde corre um rio e ali, uma belíssima praia fluvial toda ela revestida de xisto e com muitos (e muitas) banhistas ( pena que não tivesse levado uns calções e uma toalha, pois o calor da tarde convidava ao mergulho ). Sobe-se depois por uma escadaria de pedra até ao dito santuário da Srª da Piedade, ali mandado construir por um militar da terra em 1624. O calor aperta e é tempo de beber água fresca a custo zero. Eu explico-me, abundam por ali umas fontes de água corrente, muito fresca e, pressionados pelo calor intenso da tarde é só abaixar, aparar com a mão e beber. Em cima visitamos a capela da Srª da Piedade. Mais uma passeata por caminhos rodeados por construções rústicas de xisto e jardins e voltámos para as motas que ficaram a descansar à beira da estrada junto ao castelo.
Voltamos depois á estrada principal que vai para Castanheira de Pera, que é a principal que atravessa a Serra, alcatroada e provida de curvas consecutivas muito agradáveis de dar, enquanto se vai apreciando a beleza da paisagem ( cuidado com as distracções ), se respira o ar puro e se vai flutuando na tranquilidade e na calmia da tarde…
Chegámos a uma cortada para uma aldeia serrana. Será a primeira e a única a visitar, visto que a tarde já vai longa e não há muito tempo. Chama-se Cerdeira, fica à esquerda, à distância de 1,5Km e onde só se chega por um caminho em terra batida em subida íngreme. Não é que sejam motas trails, mas com coragem avançámos e fomos até lá. Ali chegados, tivemos de parar junto dum capela que pontifica à entrada. As motas ficam ali no descanso. Só podemos descobrir a aldeia caminhando de pé. Há uma fonte que nos dá as boas vindas e o jorrar da água no riacho ao lado é o único «ruído» que rasga o silêncio do local … incrível. A aldeia fica toda rodeada dum imenso arvoredo. Não há ruas, há espaços para saborear. Há paredes em xisto para olhar. Há o cheiro das ervas. Não avistámos vivalma. Após as apreciações, voltámos ás motas. Inicia-se a descida pela estrada poeirenta, venho com o motor parado e seguro a mota com os travões, até chegar ao alcatrão.
Prosseguimos na subida da serra pela predita estrada asfáltica, passamos pela 2ª aldeia, o Candal, que por sinal até margina a estrada. Breve paragem. Mas a tarde vai avançando e não há tempo a perder, rumamos até ao ponto mais alto da serra, o Altar do TREVIM. Ali chegámos, com o sol a pôr-se quase a pôr-se no horizonte. É a cerca de 20 quilómetros da Lousã, quando a estrada que galga a Serra atinge a altitude de 1.000 metros, ramifica-se para a esquerda uma estrada de alcatrão, que conduz ao Trevim e ao Santo António da Neve, os dois picos culminantes da Serra da Lousã, com 1.200 e 1.180 metros de altitude, respectivamente.
Ali se situa um conjunto de antenas retransmissoras da rádio e TV. Paramos para apreciar a paisagem imensa e infinita e saborear o silêncio e a calma do alto da montanha, com o sol a pôr-se no horizonte. Os montes ao redor parecem infinitos e estão recortados em sucessivas ondulações. A vista é esplêndida
Esta era a meta final, já não tivemos tempo para ir ao Santo António da Neve, situado num outro monte ao lado para nascente (antigo Cabeço do Pereiro ). Ali se ergue a Capela de Santo António da Neve em honra de Santo António, mandada construir por um tal neveiro–mor da casa real, passando assim o local a chamar-se Santo António da Neve ( avista-se lindamente do Trevim ).
( Como nota de curiosidade, saibam que ali existe um poço real neveiro, de onde saía gelo para a corte, em Lisboa. Os homens desciam ao fundo destes poços, usando escadas de mão, feitas em madeira. A neve conservava-se nestes reservatórios até ao verão, sendo levada para Lisboa, no verão, cortada em blocos, cuidadosamente envolvidos em palha, fetos, mesmo em serapilheiras ou, ainda, metidos em caixotes. O transporte era feito, numa primeira etapa, em carros de bois. Este transporte de neve era assistido por protecções legais, como as que abrigavam os povos dos múltiplos lugarejos encontrados pelo caminho a repararem ou substituírem, com rapidez, as carroças danificadas. Do mesmo modo eram facilitadas as passagens de neve pelas portagens ao tempo existentes ).
Mereceu a pena vir foi um rico passeio sem contar.
Fizemos depois a descida até à Lousã, toda ela em tout-vénant e muito poeirenta, espetando um valente castigo à aos pneus, mas a mota bem que precisa duma lavagem. Após, rumo até Coimbra para fazer umas compras urgentes num shopping . Chegada a casa, 22.30H.
Mais um dia valente, passado e propiciado pela minha querida CBF. Bom Domingo a todos !

5. Como nota de curiosidade, do Pico do Trevim ( tal alto das antenas ) abrange-se um dos mais vastos, senão o mais vasto panorama que das serras de Portugal se pode abranger. Para quem está voltado para o Sul é esse panorama limitado pela Serra do Muradal, Serras de Vila Velha de Rodão e mação, Alto Alentejo, Serra de Aire, Serra dos Candeeiros, o Mar e a Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz); e para quem se volta para o Norte os limites são o Mar. o Bussaco, o Caramulo, o Montemuro, a Estrela, a Gardunha, até se encontrar de novo a Serra do Murada, que limita pelo noroeste a região de Castelo Branco. Dentro desta extensa região, que deve ser sensivelmente um terço de Portugal continental, veem-se Coimbra, Montemor, Figueira, Miranda, Anadia, Cantanhede, Penacova, Poiares, S.tª Comba Dão, Tondela, Oliveira do Hospital, Nelas, Mangualde, Fornos, Gouveia, Cernache do Bonjardim, etc., e centenares de outras mais pequenas povoações. Junto à Serra, mil e tal metros mais abaixo, as veigas da Lousã, Miranda e Góis, e para sul o vale da Ribeira de Pêra, onde as povoações se encostam umas às outras: Castanheira, Coentrais, Sernadas, Sapateira, Bôlo, Vilar, Troviscal, etc.