sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Passeio à Serra da Lousã, num sábado soalheiro de Julho de 2007


1.Finalmente parece que chegou o verão com mais um brutal dia de calor a marcar o dia de hoje ( 28-07-2007) por estas bandas, a fazer esquecer o passado recente de chuva atrás de chuva. Logo pela manhã arranquei com um grupo de amigos emigrantes que estão por cá para passar férias para um passeio de BTT. E se o sol ameaçava aquecer, bem o fez e acabámos por enfrentar um calor infernal.


2.De tarde, após a hora de almoço, como que por mero acaso colocou-se a hipótese de ir “ dar-mos uma volta de mota “. E assim foi, pouco passava das 15.00H, debaixo do dito sol arrasador ( uma sesta era mais tentadora ) e lá partimos. Eu na minha Honda CBF 1000 e o meu amigo Ilídio ( que está no Luxemburgo) pediu a mota ao irmão ( uma choper, Honda Shadow 600 , vermelha). Pus-me a congeminar e, para contrariar a tendência não fui para as praias, certamente muito concorridas ou para o lado do mar, preferi ir para a montanha, fugir do bulício do verão e da confusão, à procura do verde, do ar fresco, da calmia paisagística para curar o espírito das mazelas adquiridas pelas contrariedades da semana ( leia-se “stress”). Muito bem e o destino foi nada mais nada menos do que a imponente SERRA DA LOUSÃ.

3.Situada no centro de Portugal, é um dos melhores destinos de Portugal para a prática de muitas modalidades ( BTT, Enduro, Passeios Pedestres, Todo-Terrreno, Parapente, ciclismo, etc.etc.), mas também uma excelência para o moto turismo. Um lugar imperdível para visitar de moto, onde qualquer motard que se preze tem de vir ... A Serra caracteriza-se pela sua magnitude e simplicidade, apresentando-se com a sua rusticidade própria, que caracteriza os espaços naturais, pouco sujeitos a agressões e intervenções humanas. Neste particular, destacam-se as aldeias serranas e os diversos percursos naturais. Viajar de mota por aqui permite o contacto com uma elevada diversidade de paisagens, algumas de cortar a respiração pela sua beleza e magnitude, como pelo contacto com a fauna variada ali existente.Contudo, também nas suas faldas, esta montanha encerra autênticos tesouros paisagísticos e monumentais. É o caso, por exemplo, do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, vale quase encantado, onde junto ao rio que ali corre, se erguem escarpas altivas, encimadas por um complexo religioso de grande beleza, a cujos pés se destacam as piscinas fluviais, cuja outra margem se encontra marcada pela existência de um morro encimado por um castelo medieval, que remonta ao século XI. Mas se a Serra da Lousã, nos proporciona as riquezas naturais mencionadas, chegados ao vale amplo e verdejante, ergue-se uma vila pujante de desenvolvimento, e em que a harmonia entre o novo e o histórico, é característica principal. Destacam-se neste aglomerado habitacional, além dum enorme crescimento urbano com edifícios modernos ( a Lousã tornou-se numa espécie de dormitório de Coimbra, onde a construção é mais barata em relação ao resto do país, servida por uma linha de caminho de ferro que, segundo se diz, é a única lucrativa ), a excelência da arquitectura dos seculos XVIII e XIX, cuja manifestação por excelência, surge corporizada nos vários solares e palácio existentes na parte velha da vila. Destaque especial merece, igualmente, o pelourinho existente nos Paços do Concelho, o qual se encontra, conjuntamente com o castelo, classificado como monumento nacional.

4. Iniciámos esta visita, com uma paragem junto aos Paços do Concelho, para uma breve visita e colheita de fotos junto à Câmara e Jardim Municipal. Após rumamos na direcção do complexo natural e paisagístico, da Srª da Piedade, onde se situa também o Castelo ( todo edificado em xisto ) e uma praia fluvial. Visita ao Castelo. Após, desce-se numa estrada íngreme até ao fundo, onde corre um rio e ali, uma belíssima praia fluvial toda ela revestida de xisto e com muitos (e muitas) banhistas ( pena que não tivesse levado uns calções e uma toalha, pois o calor da tarde convidava ao mergulho ). Sobe-se depois por uma escadaria de pedra até ao dito santuário da Srª da Piedade, ali mandado construir por um militar da terra em 1624. O calor aperta e é tempo de beber água fresca a custo zero. Eu explico-me, abundam por ali umas fontes de água corrente, muito fresca e, pressionados pelo calor intenso da tarde é só abaixar, aparar com a mão e beber. Em cima visitamos a capela da Srª da Piedade. Mais uma passeata por caminhos rodeados por construções rústicas de xisto e jardins e voltámos para as motas que ficaram a descansar à beira da estrada junto ao castelo.
Voltamos depois á estrada principal que vai para Castanheira de Pera, que é a principal que atravessa a Serra, alcatroada e provida de curvas consecutivas muito agradáveis de dar, enquanto se vai apreciando a beleza da paisagem ( cuidado com as distracções ), se respira o ar puro e se vai flutuando na tranquilidade e na calmia da tarde…
Chegámos a uma cortada para uma aldeia serrana. Será a primeira e a única a visitar, visto que a tarde já vai longa e não há muito tempo. Chama-se Cerdeira, fica à esquerda, à distância de 1,5Km e onde só se chega por um caminho em terra batida em subida íngreme. Não é que sejam motas trails, mas com coragem avançámos e fomos até lá. Ali chegados, tivemos de parar junto dum capela que pontifica à entrada. As motas ficam ali no descanso. Só podemos descobrir a aldeia caminhando de pé. Há uma fonte que nos dá as boas vindas e o jorrar da água no riacho ao lado é o único «ruído» que rasga o silêncio do local … incrível. A aldeia fica toda rodeada dum imenso arvoredo. Não há ruas, há espaços para saborear. Há paredes em xisto para olhar. Há o cheiro das ervas. Não avistámos vivalma. Após as apreciações, voltámos ás motas. Inicia-se a descida pela estrada poeirenta, venho com o motor parado e seguro a mota com os travões, até chegar ao alcatrão.
Prosseguimos na subida da serra pela predita estrada asfáltica, passamos pela 2ª aldeia, o Candal, que por sinal até margina a estrada. Breve paragem. Mas a tarde vai avançando e não há tempo a perder, rumamos até ao ponto mais alto da serra, o Altar do TREVIM. Ali chegámos, com o sol a pôr-se quase a pôr-se no horizonte. É a cerca de 20 quilómetros da Lousã, quando a estrada que galga a Serra atinge a altitude de 1.000 metros, ramifica-se para a esquerda uma estrada de alcatrão, que conduz ao Trevim e ao Santo António da Neve, os dois picos culminantes da Serra da Lousã, com 1.200 e 1.180 metros de altitude, respectivamente.
Ali se situa um conjunto de antenas retransmissoras da rádio e TV. Paramos para apreciar a paisagem imensa e infinita e saborear o silêncio e a calma do alto da montanha, com o sol a pôr-se no horizonte. Os montes ao redor parecem infinitos e estão recortados em sucessivas ondulações. A vista é esplêndida
Esta era a meta final, já não tivemos tempo para ir ao Santo António da Neve, situado num outro monte ao lado para nascente (antigo Cabeço do Pereiro ). Ali se ergue a Capela de Santo António da Neve em honra de Santo António, mandada construir por um tal neveiro–mor da casa real, passando assim o local a chamar-se Santo António da Neve ( avista-se lindamente do Trevim ).
( Como nota de curiosidade, saibam que ali existe um poço real neveiro, de onde saía gelo para a corte, em Lisboa. Os homens desciam ao fundo destes poços, usando escadas de mão, feitas em madeira. A neve conservava-se nestes reservatórios até ao verão, sendo levada para Lisboa, no verão, cortada em blocos, cuidadosamente envolvidos em palha, fetos, mesmo em serapilheiras ou, ainda, metidos em caixotes. O transporte era feito, numa primeira etapa, em carros de bois. Este transporte de neve era assistido por protecções legais, como as que abrigavam os povos dos múltiplos lugarejos encontrados pelo caminho a repararem ou substituírem, com rapidez, as carroças danificadas. Do mesmo modo eram facilitadas as passagens de neve pelas portagens ao tempo existentes ).
Mereceu a pena vir foi um rico passeio sem contar.
Fizemos depois a descida até à Lousã, toda ela em tout-vénant e muito poeirenta, espetando um valente castigo à aos pneus, mas a mota bem que precisa duma lavagem. Após, rumo até Coimbra para fazer umas compras urgentes num shopping . Chegada a casa, 22.30H.
Mais um dia valente, passado e propiciado pela minha querida CBF. Bom Domingo a todos !

5. Como nota de curiosidade, do Pico do Trevim ( tal alto das antenas ) abrange-se um dos mais vastos, senão o mais vasto panorama que das serras de Portugal se pode abranger. Para quem está voltado para o Sul é esse panorama limitado pela Serra do Muradal, Serras de Vila Velha de Rodão e mação, Alto Alentejo, Serra de Aire, Serra dos Candeeiros, o Mar e a Serra da Boa Viagem (Figueira da Foz); e para quem se volta para o Norte os limites são o Mar. o Bussaco, o Caramulo, o Montemuro, a Estrela, a Gardunha, até se encontrar de novo a Serra do Murada, que limita pelo noroeste a região de Castelo Branco. Dentro desta extensa região, que deve ser sensivelmente um terço de Portugal continental, veem-se Coimbra, Montemor, Figueira, Miranda, Anadia, Cantanhede, Penacova, Poiares, S.tª Comba Dão, Tondela, Oliveira do Hospital, Nelas, Mangualde, Fornos, Gouveia, Cernache do Bonjardim, etc., e centenares de outras mais pequenas povoações. Junto à Serra, mil e tal metros mais abaixo, as veigas da Lousã, Miranda e Góis, e para sul o vale da Ribeira de Pêra, onde as povoações se encostam umas às outras: Castanheira, Coentrais, Sernadas, Sapateira, Bôlo, Vilar, Troviscal, etc.

3 comentários:

Anónimo disse...

Excelente crónica. A região é muito bonita, parabéns !

migsoa disse...

Boas Virgilio,

Parabens pela tua cronica.
Continua a partilhar as tuas passeatas como tu o sabes fazer.

Aquele abraço

Anónimo disse...

Olá Virco!
Sou o CO-Propriatario da Honda Deauville nt650 que o Cicero está a usar na sua viagem a europa, para saberes mais sobre essa moto dá uma vista de olhos nestes Sites:

www.slmotopage.com
http://forum.clubedeauville.pt/

Sem mais, Paulo Jorge